Goiânia – A juíza da comarca de Cavalcante, cidade localizada na Chapada dos Veadeiros (GO), decidiu oficializar o casamento no mesmo altar que os moradores da comunidade em que atua. A magistrada Isabela Rebouças Maia se casou nessa quinta-feira (25/9) durante uma celebração comunitária que reuniu outros 49 casais na comunidade Kalunga.
A iniciativa, organizada pelo Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO) dentro do programa Raízes Kalungas – Justiça e Cidadania, transforma a feira coberta da cidade em um grande salão de festa, com direito a decoração, mesa de doces, jantar coletivo e bênçãos ecumênicas. Esta é a primeira vez que uma cerimônia de casamento comunitário é celebrada na comunidade.
“O que me faria diferente de todos os outros casais da comarca em que moro? Cavalcante já é a minha cidade, já é a minha comunidade. Foi justamente essa facilidade, sem burocracia, que nos levou a escolher o casamento comunitário”, afirmou a magistrada.
Além da juíza, outros 49 casais participaram da celebração
Agno Santos/TJ-GO
Esta foi a primeira cerimônia de casamento coletivo na comunidade
Agno Santos/TJ-GO
Juíza se casou durante cerimônia coletiva na comunidade kalunga
Agno Santos/TJ-GO
Isabela tomou posse na comanda em março deste ano
Agno Santos/TJ-GO
Escolha por Cavalcante
A juíza Izabela se mudou de Salvador (BA) para Goiás após a aprovação no concurso e tomou posse em novembro de 2024. Ela começou a atuar como juíza na comarca de Cavalcante em março deste ano.
Segundo ela, ficou noiva no início do mês de novembro, pouco antes de tomar posse. Em razão da aprovação no concurso e mudança de cidade, o noivo a acompanhou e veio para Goiás.
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Para Isabela, a decisão de casar com a comunidade aconteceu durante a reunião para organizar o evento. Ela afirma que perguntou se não poderia casar também com os demais casais, mas pagando as custas pelo registro do casamento. Ainda segundo a magistrada, o noivo agiu de forma muito natural quando ela propôs oficializar a união com a comunidade Kalunga.
Território quilombola
A região Kalunga é o maior território quilombola do Brasil, com 262 mil hectares que abrangem Cavalcante, Teresina e Monte Alegre, e é habitada por cerca de 8,4 mil pessoas.
Reconhecido como Patrimônio Cultural pelo Estado desde 1991, o território também foi declarado em 2021 pela ONU como o primeiro Ticca (Território e Área Conservada por Comunidades Indígenas e Locais) do país.
Foi nesse cenário que nasceu o Projeto Raízes Kalungas – Justiça e Cidadania, criado para levar inclusão social, acesso a direitos e pertencimento à comunidade quilombola.
Desde a sua implantação, o projeto já expediu mais de 4 mil documentos, entre RGs, certidões e CPFs; implantou sete Pontos de Inclusão Digital (PIDs); e contratou mais de 30 moradores da própria comunidade, capacitados para atuar como agentes locais de cidadania.