As últimas semanas têm mostrado artistas brasileiros voltando a ocupar as ruas em protestos, relembrando um papel histórico que remonta a momentos decisivos da vida política nacional. O engajamento da classe artística, hoje visto em atos contra a desigualdade social e em defesa da democracia, como no recente ato contra a PEC da Blindagem, vai de encontro a episódios marcantes do passado, como o movimento das “Diretas Já”, na década de 1980. A presença de músicos, escritores e atores ajudou a dar projeção a um clamor popular da época que se espalhou por todo o Brasil.
Naquele período, nomes como Chico Buarque, Fafá de Belém, Fernanda Montenegro, Gilberto Gil e Milton Nascimento se tornaram símbolos de uma geração que reivindicava eleições diretas para presidente após mais de 20 anos de ditadura militar. Palcos foram improvisados em praças públicas, canções viraram hinos da esperança democrática e a participação dos artistas ampliou o alcance da mobilização, atraindo multidões. Também participaram nomes como Caetano Veloso, Beth Carvalho, Elba Ramalho, Alceu Valença, Lulu Santos, Ivan Lins, Gal Costa e o nadador esportivo Osmar Santos.
Veja as fotosAbrir em tela cheia Gilberto Gil e Chico Buarque em protesto da “Diretas Já”Foto: Autor desconhecido/Acervo Instituto Antonio Carlos Jobim Fernanda Montenegro na “Diretas Já”Foto: Globoplay Caetano Veloso participou do movimento “Fora Collor”, em 1990Reprodução: Internet Tico Santa Cruz participou de protestos de 2013Reprodução: Internet Leandra Leal participou de protesto de professores no Rio de Janeiro, em 2013, durante manifestações de diversas áreas com o denominado “O Gigante Acordou”Reprodução: Internet
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Nos anos 1990 e 2000, outros momentos também reforçaram a tradição. Manifestações contra a corrupção, campanhas por justiça social e atos de resistência cultural levaram artistas às ruas, reafirmando a força da arte como veículo de mobilização. Caetano Veloso e Gilberto Gil seguiram ativos em campanhas contra a corrupção e em manifestações pela democracia; e também apareceram cantores como Herbert Vianna e Os Paralamas do Sucesso, Cássia Eller, Chico César, Lenine e Zélia Duncan.
Em 2013, durante as “Jornadas de Junho”, nomes da música e da televisão se somaram às multidões, ainda que em um cenário mais difuso e fragmentado, refletindo a complexidade política do momento. Os protestos começaram contra o aumento das tarifas de transporte público em diversas capitais, mas rapidamente se ampliaram para uma pauta múltipla. As ruas passaram a reunir manifestações contra a corrupção, críticas aos gastos bilionários com a Copa do Mundo em contraste com a precariedade dos serviços públicos, além de reivindicações por melhorias em saúde e educação.
Nesse cenário, nomes da música e da televisão se somaram à mobilização: os veteranos Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil declararam apoio novamente; enquanto artistas de uma geração mais jovem, como Tico Santa Cruz, Pitty e Rogério Flausino, também fizeram coro às reivindicações. Atrizes como Leandra Leal e Letícia Sabatella marcaram presença em atos de rua, reforçando o caráter plural da participação artística no que ficaria marcado como um dos maiores levantes populares desde as “Diretas Já”.
Agora, ao lado de novas gerações de músicos, atores e influenciadores, veteranos voltam a dar o tom em atos de grande visibilidade. As comparações com a força simbólica das “Diretas Já” são inevitáveis, embora o contexto seja diferente: se na década de 1980 havia um objetivo unificado e claro, que era o fim do regime militar, hoje as ruas ecoam múltiplas pautas, desde a preservação da Amazônia até a defesa da democracia frente a retrocessos políticos.