Sem celular na escola, sem celular no plenário

Sem celular na escola, sem celular no plenário

No plenário da Câmara, no dia 17 de setembro, parlamentares do bolsocentrão oraram aos berros com celulares em mãos, comemoraram a vitória da impunidade. A cena é comum, mas é oportuno lembrar que ocorreu também no 8 de janeiro. Os bolsonaristas que invadiram a Câmara também rezaram suas lives. Quando fazer política se resume à sedução dos algoritmos, será que não é o caso de restringir o uso de celulares no plenário? Só me preocupa a possível depressão dos deputados de extrema-direita. É possível existir sem celular?

É claro que o uso de celular não tem ideologia nem partido. A maioria usa por gosto ou necessidade. Pesquisei como funciona em outros países. O Parlamento britânico permite o uso de celulares para consultar documentos, mas veta gravações, fotografias e transmissões ao vivo. Na Índia, parlamentares chegaram a ser punidos por fazer lives durante sessões. Nos Estados Unidos, a invasão do Capitólio em 2021 levou a Câmara a reforçar regras contra gravações e transmissões não autorizadas.

Segue-se esse evidente acordo entre as big techs e a extrema-direita no mundo, esse ataque contra a democracia que não quer ser responsabilizada no Brasil nem em parte alguma, que propositadamente confunde a ideia de liberdade de expressão e faz com que a palavra perca o sentido. Causa riso recordar a frase “a imprensa é o quarto poder” quando se vê a foto do Amazon, do Meta, e do Twitter (atual X) na posse de Trump, uma exaltação desse poder global, dessa violência binária que usa smoking.

Inevitável associar o plenário com a proibição do uso dos telefones nas escolas.  Busca-se recuperar uma concentração já despedaçada, enfrentar um vício irrefreável e proteger a saúde mental de crianças e adolescentes, ameaçada por ansiedades e depressões. A proibição soa a desespero, pois é claro que o celular pode ser um aliado pedagógico. Mas antes disso, precisamos urgentemente educar as crianças e os pais a utilizar essa tecnologia. Aulas de ética e política na internet pra todos, pra ontem.

Os parlamentares terão lugares nas primeiras carteiras, porque sim, será obrigatoriamente presencial. Não se trata de proibir o uso de celulares somente, mas discutir sua utilização e limites, para que o espetáculo deplorável do dia 17 de setembro não se repita. É mais um debate importante que o Congresso despreza, já que tudo que importa é a imagem que a tela reflete.

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