Quando “Vale Tudo” foi ao ar em 1988, o país parava diante da televisão. E se hoje a morte de Odete Roitman (Debora Bloch) no remake da novela gerou críticas e memes, o assassinato da personagem de Beatriz Segall na versão original marcou a história da teledramaturgia justamente pelo oposto: pela surpresa, pela inteligência e pelo mistério que cercaram a trama. A milionária morreu por engano! Leila (Cassia Kiss) matou Odete achando que era Maria de Fátima (Gloria Pires), amante de Marco Aurélio (Reginaldo Faria).
A cena foi ao ar em 6 de janeiro de 1989 e se tornou um dos maiores eventos da ficção brasileira. A vilã da novela de Aguinaldo Silva, Gilberto Braga e Leonor Bassères foi assassinada com um tiro — e durante semanas o país inteiro especulou: quem matou Odete Roitman?
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Mas o que poucos sabem é que, nos bastidores, o plano original era outro. Desde o início, os autores sabiam que Odete morreria. O assassino seria Marco Aurélio, personagem ambicioso e frio, o único que de fato tinha motivos para desejar a morte da poderosa empresária.
Só que a informação vazou para a imprensa antes da hora. As revistas especializadas publicaram que Marco Aurélio seria o assassino — e, para evitar que o mistério se perdesse, os autores decidiram mudar completamente o rumo da história.
Foi então que surgiu uma das viradas mais inesperadas e brilhantes das novelas brasileiras: a morte por engano. Na reta final, descobre-se que Leila, vivida por Cássia Kis, matou Odete acreditando que atirava em Maria de Fátima (Gloria Pires), amante de seu marido, Marco Aurélio. A vilã acabou morrendo sem ser o verdadeiro alvo, num erro trágico que transformou o desfecho em algo muito mais humano e surpreendente.
A escolha de Leila como assassina chocou o público — ela era uma personagem secundária, sem perfil violento ou ligação direta com as intrigas principais. Justamente por isso, a revelação funcionou tão bem: ninguém esperava, e o motivo era completamente fora da curva.
Mais do que resolver o mistério, os autores criaram um final que redefiniu o padrão do gênero. A morte de Odete Roitman entrou para o imaginário coletivo não apenas pela força da personagem, mas porque quebrou as regras do “quem matou”. Foi uma jogada de mestre — e uma lembrança de que, às vezes, o acaso (mesmo que planejado) é o que dá à ficção o gosto da genialidade.