A Associação dos Familiares de Vítimas do Incêndio do Ninho do Urubu (Afavinu) se manifestou após a Justiça do Rio de Janeiro absolver, em primeira instância, todos os sete réus do processo criminal que investigava o incêndio ocorrido em 2019 no centro de treinamento do Flamengo. A decisão foi proferida pela 36ª Vara Criminal e ainda cabe recurso.
Em nota oficial, a entidade, que reúne pais, mães e familiares dos dez adolescentes mortos na tragédia, declarou “profundo e irrevogável protesto” contra o resultado do julgamento. O texto afirma que a decisão representa “grave afronta à memória das vítimas e ao sentimento de toda a sociedade”.
Veja as fotosAbrir em tela cheia A tragédia no CT do Flamengo deixou 10 adolescentes mortos.Reprodução 10 jovens e adolescentes das categorias de base do Flamengo foram vítimas fatais do incêndio no Ninho do Urubu, em 2019. Foto: Reprodução 10 jovens e adolescentes das categorias de base do Flamengo foram vítimas fatais do incêndio no Ninho do Urubu, em 2019. Foto: Reprodução
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“Entendemos que o papel da Justiça não se limita à aplicação da lei em casos individuais, mas exerce uma função pedagógica essencial na prevenção de novos episódios semelhantes, no envio de mensagem clara à sociedade de que negligências de segurança, falhas na estrutura técnica e irresponsabilidades não serão toleradas — e não cumprir essa função configura, para nós, grave afronta à memória das vítimas e ao sentimento de toda a sociedade”, diz o comunicado.
A associação também afirmou que a absolvição renova o sentimento de impunidade e fragiliza os mecanismos de proteção à vida de jovens atletas. “A absolvição dos acusados, sob o argumento de que não se conseguiu individualizar condutas técnicas ou provar nexo causal penalmente relevante, renova em nós o sentimento de impunidade e fragiliza o mecanismo de proteção à vida e à segurança dos menores em entidades esportivas, formativas ou assistenciais no país”, acrescenta a nota.
O texto reforça que a Afavinu seguirá lutando por justiça e cobrando uma revisão da decisão. “A vida dos nossos filhos tem um valor irreparável e em memória aos 10 garotos inocentes lutaremos, até o fim, por uma Justiça efetiva e capaz de inibir novos delitos com sentenças que protegem as vítimas e não os algozes”, conclui a associação.
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro informou que recorrerá da decisão. O Flamengo foi procurado pela reportagem na noite de terça-feira, mas não se manifestou até o fechamento desta matéria.
O caso
O incêndio no alojamento das categorias de base do Flamengo ocorreu em 8 de fevereiro de 2019, no Ninho do Urubu, na zona oeste do Rio de Janeiro. Na época, 26 jovens dormiam no local. Dez morreram e três ficaram feridos.
O processo criminal estava em tramitação desde janeiro de 2021 e investigava as causas do incêndio e a eventual responsabilidade de dirigentes e prestadores de serviço do clube. O Ministério Público havia pedido a condenação de todos os acusados após ouvir mais de 40 testemunhas.
Foram absolvidos Márcio Garotti, ex-diretor financeiro do Flamengo; Marcelo Maia de Sá, ex-diretor adjunto de patrimônio; Danilo Duarte, Fabio Hilário da Silva e Weslley Gimenes, engenheiros responsáveis pelas instalações; Claudia Pereira Rodrigues, que assinou os contratos da NHJ; e Edson Colman, sócio da empresa responsável pela manutenção dos aparelhos de ar-condicionado.
O juiz Tiago Fernandes Barros considerou improcedente a ação, que imputava aos réus os crimes de incêndio culposo e lesão corporal grave. A decisão poderá ser reavaliada em instâncias superiores.