Astrônomos identificaram um planeta que, de forma incomum, apresenta comportamento semelhante ao de uma estrela, incluindo um surto de crescimento acelerado jamais registrado em um planeta livre. A descoberta foi publicada nesta quinta-feira (2) no The Astrophysical Journal Letters.
O planeta errante, chamado Cha 1107-7626, não orbita nenhuma estrela e está localizado a cerca de 620 anos-luz da Terra, na constelação de Chamaeleon. Com massa estimada entre cinco e dez vezes a de Júpiter, o planeta ainda está em formação, com idade aproximada de 1 a 2 milhões de anos — uma fase extremamente jovem se comparada aos 4,5 bilhões de anos dos planetas do nosso Sistema Solar.
O Cha 1107-7626 é cercado por um disco de gás e poeira que se acumula no planeta por meio de um processo chamado acresção. Observações realizadas com o Very Large Telescope, no Chile, e o Telescópio Espacial James Webb revelaram que o planeta está acumulando material oito vezes mais rápido do que nos meses anteriores, ingerindo cerca de 6,6 bilhões de toneladas por segundo.
O fenômeno representa a maior taxa de crescimento já registrada para um planeta e sugere que objetos de massa muito menor que estrelas podem possuir campos magnéticos fortes capazes de impulsionar seu desenvolvimento, de forma similar ao que ocorre em estrelas recém-nascidas.
Segundo os pesquisadores, o Cha 1107-7626 provavelmente se formou de maneira similar às estrelas, a partir do colapso e fragmentação de uma nuvem molecular. O estudo destaca que sua infância é muito turbulenta, com surtos recorrentes de crescimento, observados anteriormente em 2016, e alterações químicas no disco de material que o cerca, como a presença de vapor d’água durante os períodos de acreção acelerada.
“Flagramos este planeta errante recém-nascido no ato de devorar material a um ritmo furioso”, afirmou o astrônomo Ray Jayawardhana, da Universidade Johns Hopkins. “A infância desses objetos de massa planetária livre se assemelha à das estrelas como o Sol.”
O estudo lança luz sobre a formação e evolução de planetas errantes, que podem ser expelidos de órbitas estelares ou se formarem isoladamente como estrelas. A equipe planeja investigar a duração e frequência desses surtos de crescimento, além de estudar a composição química e os possíveis discos circundantes que poderiam gerar luas, semelhantes a Titã, a lua de Saturno.
Novos telescópios, como o Vera C. Rubin, o futuro Telescópio Extremamente Grande (ELT) no Chile e o Telescópio Espacial Nancy Grace Roman, previsto para 2027, devem permitir aos astrônomos analisar esses planetas errantes com mais detalhes, incluindo a detecção de possíveis companheiros que desencadeiam explosões de acreção.
A descoberta do Cha 1107-7626 representa um avanço significativo na compreensão de como planetas jovens e errantes podem se desenvolver de forma intensa e rápida, desafiando conceitos tradicionais sobre a formação planetária.