O deputado federal Zezinho Barbary (PP-AC) vem sendo gravemente acusado de envolvimento em irregularidades ambientais e territoriais no Acre. Segundo reportagem publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, Barbary teria ordenado, ainda quando era prefeito de Porto Walter, a abertura do chamado “Ramal Barbary” por máquinas obtidas via emendas parlamentares — e teria alterado o traçado da estrada de modo a beneficiar propriedades da própria família, como também invadido área de terra indígena para permitir o prosseguimento da via.
De acordo com a reportagem, o ramal liga os municípios de Porto Walter e Cruzeiro do Sul. As obras envolveram desmatamento em floresta amazônica, sobretudo nos primeiros 12,4 km da via, fiscalizados pelo Ibama em 2015.
Documentos apontam ainda que parte do traçado passou por um seringal pertencente a um primo do deputado.
Em 2019, denúncias foram formalizadas de que o ramal invadiu a Terra Indígena Jaminawa do Igarapé Preto. A cacique Esmeralda Silva Moreira relatou impactos sociais e ambientais, como o assoreamento de igarapés, secagem de cursos de água e prejuízos à pesca de subsistência das famílias indígenas.
A Procuradoria da República no Acre abriu investigação, solicitando informações a órgãos ambientais e de infraestrutura estadual. Em 2021, o Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac) reconheceu que o projeto atravessava a terra indígena. Porém, pouco tempo depois o mesmo órgão concedeu licença para desmatamento de 251 hectares para a abertura do ramal, autorizando um traçado que se aproximava dos limites da TI.
Em 2022, a Funai também encaminhou denúncia ao Ministério Público, registrando notícias de que o governo estadual prosseguia com obras no ramal. Em resposta, o MP ajuizou ação civil pública, requerendo bloqueio da estrada. A medida foi indeferida em primeira instância, mas o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) acatou recurso e determinou o fechamento da estrada em dezembro de 2023.
Além disso, exigiu-se a realização de licenciamento ambiental e a indenização à comunidade indígena no valor de R$ 1 milhão. A ação foi extinta em primeira instância mediante acordo firmado em 2025 entre o governo do Acre e os indígenas, com compromisso de legalizar o trecho e pagar R$ 500 mil à comunidade.
Defesa do deputado
Barbary nega as irregularidades e afirmou que “faria tudo de novo”, chamando de “burocracia” as exigências ambientais. Ele aponta que as obras visavam atender à demanda da população local e romper o isolamento regional. Em nota à Folha, disse que não atuou em benefício próprio.
Em áudio vazado, o deputado sugere a contratação de indígenas para trabalhar na obra de forma que seu nome não fosse vinculado ao processo de execução. Também já destinou emendas para etapas de regularização do ramal: R$ 200 mil para fases iniciais e R$ 1,5 milhão para estudos que aguardariam aprovação legal.
Líderes indígenas denunciavam já ameaças de morte ao cacique geral dos Jaminawa após o fechamento da estrada, alegando que ele teria motivado o embargo das obras. Também foram relatados impactos diretos aos recursos hídricos das aldeias e à sobrevivência das comunidades tradicionais.