Do posto ao copo: polícia revela rota do metanol que matou seis pessoas em São Paulo

Do posto ao copo: polícia revela rota do metanol que matou seis pessoas em São Paulo

A Polícia Civil de São Paulo detalhou o funcionamento do esquema que levou metanol (uma substância de uso industrial altamente tóxica) até bebidas alcoólicas vendidas em diferentes regiões da capital paulista. O produto saía de dois postos de combustível localizados em Santo André e São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, e era transportado até uma fábrica clandestina usada para falsificar bebidas. O caso já causou seis mortes e 38 intoxicações confirmadas no estado.

Segundo as investigações, o etanol adulterado era adquirido nos postos e misturado ao metanol dentro da fábrica, que operava sem autorização sanitária e foi fechada no último dia 10. No local, o álcool industrial era usado na produção de vodca, gin e outras bebidas destiladas, que eram vendidas em bares e adegas da capital.

Veja as fotosAbrir em tela cheia A substância estaria sendo utilizada na produção de bebidas falsificadasReprodução/Canva Intoxicação por metanol ascende alerta em São PauloFoto: José Cruz/ABr Intoxicação por metanol ascende alerta em São PauloDivulgação: Biodiesel Brasil

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A Polícia Civil informou que o esquema era comandado por Vanessa Maria da Silva, presa na semana passada, e contava com o envolvimento do ex-marido, do pai e do cunhado. Todos, segundo os agentes, participavam do processo de produção, envase e distribuição das bebidas.

Os investigadores também identificaram os responsáveis pelo fornecimento de garrafas e rótulos usados na falsificação. Um depósito de embalagens funcionava em frente a um dos postos investigados, o que facilitava o transporte e o armazenamento do material. No total, mais de mil garrafas foram apreendidas em depósitos na capital e na Grande São Paulo, muitas delas pertencentes a marcas conhecidas, reutilizadas sem autorização.

De acordo com o último boletim da Secretaria de Saúde, os primeiros casos de intoxicação foram registrados no fim de agosto. Hospitais da capital começaram a receber pacientes com sintomas graves, e exames laboratoriais apontaram presença de metanol nas bebidas consumidas. Em 22 de setembro, o governo estadual emitiu alerta e confirmou que as ocorrências estavam relacionadas a bebidas adulteradas.

Perícias realizadas pela polícia encontraram concentrações superiores a 40% de metanol em amostras apreendidas, índice considerado letal. Segundo autoridades, a presença da substância em quantidades acima de 0,1% já é nociva à saúde humana. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) confirmou que o produto usado no esquema apresentava teor acima do permitido, o que caracteriza adulteração.

As bebidas adulteradas foram distribuídas para bares e adegas em diversas regiões, incluindo a Mooca, na Zona Leste, e o bairro da Saúde, na Zona Sul. A Secretaria da Fazenda suspendeu as inscrições estaduais de estabelecimentos flagrados vendendo os produtos. A polícia chegou à fábrica após investigar a morte de Ricardo Lopes Mira, de 54 anos, a primeira vítima confirmada de intoxicação por metanol no estado.

O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, afirmou que não há indícios diretos de ligação entre os suspeitos e facções criminosas, mas admitiu a possibilidade de envolvimento indireto. “É uma associação criminosa que foi prejudicada por uma organização criminosa”, declarou Derrite. Segundo ele, os responsáveis pela adulteração de bebidas podem ter adquirido, sem saber, etanol já contaminado com metanol.

A Operação Alquimia, deflagrada na quinta-feira (16/10), investiga usinas, terminais marítimos e empresas químicas suspeitas de desviar metanol industrial para o mercado ilegal. Parte desse produto teria sido entregue diretamente a postos da Grande São Paulo, burlando o destino declarado nas notas fiscais.

As vítimas confirmadas são Ricardo Lopes Mira (54 anos), Marcos Antônio Jorge Júnior (46), Marcelo Lombardi (45), Bruna Araújo (30), Daniel Antonio Francisco Ferreira (23) e Leonardo Anderson (37). Entre os sobreviventes, há casos graves de cegueira e sequelas neurológicas.

Categories: ENTRETENIMENTO
Tags: metanolNotíciasPolícia Civil