Influenciadoras brasileiras promovem site investigado por tráfico de pessoas

Influenciadoras brasileiras promovem site investigado por tráfico de pessoas

Aviso: o texto a seguir trata de tráfico humano, incluindo tráfico de mulheres, e contém conteúdo sensível. Denuncie pelo Disque 100, canal oficial para proteção dos direitos humanos. Sua denúncia é fundamental para combater essa prática e proteger vítimas.

Vídeos de influenciadoras brasileiras vêm circulando nas redes sociais apresentando uma suposta “oportunidade imperdível” de trabalho na Rússia. As publicações começam com um chamado: “Você já pensou em morar fora, aprender uma nova língua e ainda receber por isso?”. O pacote inclui salário de até US$ 680 por mês (aproximadamente R$ 3.400), passagens aéreas pagas, moradia gratuita, seguro médico e aulas de russo. No papel, as vagas seriam em áreas como turismo, alimentação e logística. Na prática, as jovens acabam direcionadas para fábricas de drones militares no Tartaristão, região estratégica da Rússia, envolvida diretamente no conflito contra a Ucrânia.

A iniciativa se chama “Alabuga Start” e se apresenta como um programa internacional de intercâmbio para jovens da África, Ásia e América Latina. Mas investigações da Interpol revelam que mais de 90% das participantes acabam em linhas de produção bélica, submetidas a jornadas cansativas, vigilância constante e salários abaixo do prometido. Há ainda denúncias de passaportes retidos e exposição a substâncias tóxicas.

Veja as fotosAbrir em tela cheia Gizelly Bicalho alertou sobre as divulgaçõesReprodução: Instagram/@gizellybicalho Guga Figueiredo alertou sobre as divulgações; o influenciador compartilhou vários casos, como de Isabella DuarteReprodução: Instagram/@gugafigu Danny Boggione alertou sobre as divulgaçõesReprodução: Instagram/@dannyboggione Danny Boggione alertou sobre as divulgaçõesReprodução: Instagram/@dannyboggione Fábrica de drones em Abaluga, na Rússia, onde mulheres recrutadas no Brasil estariam sendo submetidas à trabalho análogo à escravidãoReprodução: YouTube/APT

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A ex-BBB Gizelly Bicalho alertou nesta quarta-feira (1º/10) sobre a gravidade do caso: “Quando eu vi pela primeira vez essa publicidade, eu já achei, no mínimo, estranho; mas agora, com a investigação do Guga [Figueiredo], fiquei ainda mais apavorada, porque todos os sinais mostram que sim, é o pior. Se você viu esse tipo de publicidade, ou se você vê, eu quero te pedir para denunciar, porque isso é muito sério. Inúmeros influenciadores estão fazendo essa publicidade e não é publicidade. Isso é um crime”, afirmou a advogada.

Relatórios da Iniciativa Global contra o Crime Organizado Transnacional apontam que as jovens aliciadas têm entre 18 e 22 anos, alvo preferencial de campanhas agressivas no TikTok, Telegram e Facebook. A Rússia, que enfrenta queda populacional e escassez de trabalhadores devido à guerra, encontrou no recrutamento estrangeiro uma forma de expandir sua produção bélica.

Em 2024, de acordo com o serviço de inteligência da Ucrânia, mulheres de 44 países já haviam ingressado no programa. O projeto inclui a construção de moradias em Alabuga para abrigar até 41 mil pessoas, em um claro sinal de expansão da indústria militar.

Organismos de direitos humanos e a Interpol classificam a prática como possível tráfico humano. Países como África do Sul, Botsuana e Argentina abriram investigações, e governos já emitiram alertas para jovens mulheres sobre os riscos do “Start”. Em resposta, autoridades russas negam irregularidades e acusam o Ocidente de “campanha de desinformação”.

Para a ativista Danny Boggione, que atua na prevenção ao tráfico de pessoas, o aliciamento foi rápido demais: “Foi espantoso ver a facilidade e a rapidez com que foi divulgado e que foram contratados influenciadores para divulgar o trabalho na Rússia, que na verdade é no Tartaristão, nos estepes russos, numa fábrica de drones em condição análoga à escravidão”, relatou ela.

Com a repercussão, influenciadoras como MC Thammy se retrataram publicamente e apagaram seu vídeo, afirmando ter rompido o contrato com a empresa e que haviam mostrado documentação, além de acreditar na publi porque outros influenciadores estariam participando também. “Assim que surgiram acusações, devolvi o valor e acionei minha equipe jurídica”, declarou. Já Isabella Duarte, outra influenciadora citada, ainda não se manifestou. O portal LeoDias tenta contato com Isabella para posicionamento; o espaço está aberto.

Em nota, o Ministério das Relações Exteriores afirmou ao portal que vítimas de tráfico e contrabando de pessoas no exterior têm sido uma prioridade da política consular brasileira. Apesar de não responder às dúvidas da reportagem, como se existe um direcionamento de big techs sobre tais vídeos que divulgam falsas informações, o órgão escreveu: “Em esforço de conscientização de brasileiros que buscam oportunidades de emprego no exterior, o Ministério das Relações Exteriores participa ativamente no IV Plano Nacional de Combate ao Tráfico de Pessoas, no âmbito do qual produziu guias on-line sobre tráfico de pessoas. Ademais, o Itamaraty publicou alerta recente sobre a participação de combatentes brasileiros em conflitos armados em terceiros países. O Ministério das Relações Exteriores, por meio de sua rede consular, permanece à disposição dos cidadãos brasileiros no exterior para prestação de assistência consular, inclusive em casos emergenciais”.

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