O pai de Michel Mendes, adolescente de 14 anos que morreu durante a megaoperação nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio, se pronunciou, nesta quarta-feira (5/11), sobre a morte do filho, que ele se negou a tratar como “vítima” das autoridades. A ação policial contra o tráfico de drogas, realizada no dia 28 de outubro, deixou 121 mortos, sendo dois adolescentes.
Em entrevista à BBC News Brasil, o veterano relembrou a trajetória do jovem até a entrada no mundo do crime. De acordo com ele, o menino já pilotava motos durante a adolescência. Até que checou as redes sociais e se deparou com fotos do filho portando armamento: “Eu falei: ‘filho, pra quê você está tirando foto com a arma?’. A rede social influencia muito na mente deles”.
Veja as fotosAbrir em tela cheia Bope faz alerta após operação no Rio de JaneiroReprodução: Instagram/@BOPE_PMERJ Megaoperação foi deflagrada nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio de JaneiroFoto: José Lucena/TheNews2/Estadão Conteúdo Megaoperação foi deflagrada nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio de JaneiroFoto: José Lucena/TheNews2/Estadão Conteúdo Reprodução Megaoperação foi deflagrada nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio de JaneiroReprodução: Redes Sociais
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“As tentações que tem nas comunidades no total, que são mostradas nas televisões e na rede social, eles acham que tudo é com facilidade. Eu estava trabalhando na mente dele, trazendo ele para mim, fazendo o máximo, como um pai que ama o seu filho, para ele sair dessa situação. Mas quando eu pensava que ele estava em casa, ele estava na rua”, continuou o pai.
O senhor afirmou que sempre checava o noticiário antes de sair para o trabalho, temendo pela vida do filho em possíveis confrontos armados. Até que, na manhã da megaoperação, soube da ação e ligou para Michel: “Era 8h30 da manhã. Quando eu ia falar com ele, de repente, ele desligou rápido e o contato sumiu. Nesse momento, eu já fiquei em choque”.
Horas mais tarde, amigos do filho identificaram o corpo dele entre os mortos: “Quando eu vi essa foto, eu já tinha certeza total. Eu olhei o menino no chão e sabia que era o meu menino. Quando ele estava morto no mato, foi da forma que ele dormia. Ele botava as duas cabecinhas para trás. Ele dormia com as mãos para trás, assim, na cabeça”.
Apesar da dor com a morte de Michel, o pai entende que ele não era vítima: “Eu não podia, como as pessoas queriam e imaginavam, colocar o meu filho como vítima, mesmo ele tendo 14 anos. Porque a vida era feita de escolha. Eu não quero crítica sobre o Estado ou contra o tráfico. A minha preocupação é aconselhar os jovens para que eles repensem a vida deles. Se eles realmente amam seu pai, se eles realmente amam sua mãe, eles têm a chance de repensar a vida deles”.
A megaoperação nos Complexos da Penha e do Alemão resultou em 113 prisões e 121 mortos, incluindo quatro policiais. Além de Michel Mendes, um adolescente de 17 anos também está entre as vítimas fatais.