Evangélico é agredido após citar versículo e pedir condenação de Bolsonaro durante vigília em Brasília

Confusão em vigília na porta de condomínio de Bolsonaro — Foto: Brenno Carvalho/Agência O Globo

O evangélico Ismael Lopes, de 34 anos, tornou-se o centro de uma confusão na noite de sábado (22) durante a vigília organizada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro, preso preventivamente por decisão do ministro Alexandre de Moraes. Ao pedir a palavra e fazer um discurso crítico, Ismael acabou sendo perseguido, agredido e retirado do local pela polícia.

Ismael, que acumula cerca de 35 mil seguidores no Instagram e integra a Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, leu um trecho bíblico afirmando que “quem cava covas, por elas será engolido”, em referência à atuação de Bolsonaro durante a pandemia. Em seguida, declarou que o ex-presidente deveria ser condenado pelas ações que resultaram na morte de mais de 700 mil brasileiros na crise sanitária.

A fala gerou revolta entre apoiadores presentes, que partiram para cima do jovem com socos e pontapés. Uma das mangas da camisa social que ele usava ficou rasgada. Policiais militares que faziam a segurança da vigília precisaram intervir com spray de pimenta para contê-los e escoltaram Ismael até um carro de aplicativo para garantir sua saída em segurança. Flávio Bolsonaro chegou a pedir que os apoiadores não agredissem o rapaz, mas foi ignorado.

Na manhã deste domingo (23), Ismael compareceu ao Instituto Médico Legal (IML) de Brasília, onde realizou exame de corpo de delito. Em um vídeo publicado nas redes sociais, ele declarou estar “bem dentro do possível” e disse ter sofrido apenas “poucos machucados”.

Foto: Reprodução Metrópoles

Ismael Lopes não é pastor, mas atua politicamente como cristão progressista. Ele já representou a Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito em reuniões do Conselho de Participação Social da Presidência da República, órgão criado em 2023 para aproximar o governo de movimentos sociais. Em suas redes, defende pautas de esquerda e critica o conservadorismo religioso. Em seu Facebook, a imagem de capa inclui figuras históricas do comunismo, como Marx, Lênin, Stálin e Mao Tsé-Tung.

O ativista também já participou de encontros com autoridades do governo federal, como o então ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo, e costuma discutir política e fé cristã em seus perfis. Em publicações recentes, afirmou que “o amor ao próximo só é possível com o ódio de classe”, defendendo que o evangelho é voltado aos pobres e que os ricos devem abandonar posições de exploração.

Segundo ele, sua ida à vigília não foi uma ação organizada pela Frente de Evangélicos, mas ele comunicou líderes do movimento antes de tentar discursar no ato. Ismael se apresentou aos bolsonaristas como representante de uma organização evangélica presente em 19 estados.

A confusão expôs o clima de tensão que marca os atos em defesa de Jair Bolsonaro após sua prisão, com confrontos e forte mobilização de militantes nas entradas de condomínios e na sede da Polícia Federal em Brasília.

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