O Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, realizou pela primeira vez uma cirurgia cardíaca em um feto ainda no período pré-natal. O procedimento, considerado complexo e raro, foi necessário após o diagnóstico de atresia de valva pulmonar uma malformação grave que impede o fluxo adequado de sangue do ventrículo direito para os pulmões e pode evoluir para hipoplasia, comprometendo o desenvolvimento cardíaco.
O problema foi identificado quando a gestante, Jéssica Peruzzo, realizou um exame morfológico às 29 semanas. Segundo o médico Eduardo Becker, coordenador do Serviço de Cirurgia Fetal, sem intervenção o bebê poderia nascer com o ventrículo direito subdesenvolvido, exigindo cirurgias de alta complexidade e enfrentando sérios riscos à vida.
Jéssica conta que, após o diagnóstico, viveu semanas de apreensão, mas encontrou força no apoio da equipe médica.
“A equipe me acolheu com tanto cuidado que o medo deu lugar à confiança”, relatou.
A cirurgia ocorreu no dia 29 de outubro e reuniu obstetras, cardiologistas intervencionistas e anestesistas. A intervenção foi feita por via percutânea: uma agulha foi inserida no útero até a válvula pulmonar fechada, permitindo a passagem de um cateter para restabelecer o fluxo sanguíneo na artéria pulmonar.
O procedimento foi um sucesso e trouxe novas perspectivas para a criança.
“Quero que outras mães saibam da importância dos exames cardíacos na gestação. O diagnóstico precoce pode salvar vidas como salvou a da minha filha”, destacou Jéssica.
Segundo o hospital, tanto a mãe quanto o feto apresentaram boa evolução após a operação. Exames recentes mostram que o problema cardíaco foi corrigido e o desenvolvimento segue dentro do esperado.
Entenda as condições
🔹 Atresia de valva pulmonar
É quando a válvula pulmonar não se forma adequadamente, bloqueando a passagem de sangue do ventrículo direito para os pulmões. A falta de oxigenação adequada pode causar cianose e dificuldade respiratória. O tratamento envolve medicamentos para manter o canal arterial aberto e cirurgias corretivas.
🔹 Hipoplasia do ventrículo direito
Trata-se de uma cardiopatia congênita rara em que o ventrículo direito não se desenvolve completamente, podendo afetar outras estruturas cardíacas e exigir múltiplas intervenções cirúrgicas após o nascimento.