O futebol brasileiro enfrenta um desafio crescente: o número de lesões musculares e físicas entre atletas tem aumentado nos últimos anos, com impacto direto na performance e nos cofres dos clubes. Dados recentes do Transfermarkt apontam que, na Série A de 2024, cerca de 17% dos jogadores tiveram afastamentos superiores a duas semanas por lesões musculares.
Comparando com estudos europeus, como os conduzidos pela UEFA para as cinco grandes ligas continentais, o Brasil apresenta índice similar, mas com maior concentração de lesões em períodos de calendário mais apertado.
Veja as fotosAbrir em tela cheia Pedro com dor na mão em Flamengo x RacingReprodução/André Durão Pulgar sai lesionado do jogo contra o Bayer nas oitavas de final contra o BayerPulgar sai lesionado do jogo contra o Bayer nas oitavas de final contra o Bayer/Reprodução/CazéTV Neymar cai no gramado e pede substituição / ReproduçãoNeymar cai no gramado e pede substituição / Reprodução
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A análise dos clubes mostra que a maioria das lesões ocorre em jogos de alta intensidade e após períodos de sequência de partidas, evidenciando desgaste acumulado. Em 2024, Flamengo, Palmeiras e São Paulo lideraram o ranking de afastamentos prolongados, somando mais de 150 dias de desfalque cada um por lesões musculares e articulares.
A previsão de impacto financeiro, considerando salários, custos médicos e perda de performance, indica que o prejuízo médio por clube pode ultrapassar R$ 5 milhões por temporada, números próximos aos registrados em ligas europeias.
O levantamento revela ainda que, em média, um jogador lesionado perde 20% da temporada em disponibilidade. Alguns casos extremos chegaram a afastamentos de até três meses, comprometendo campanhas e planejamento de elenco. O perfil predominante de lesões inclui distensões musculares na coxa e tornozelo, frequentemente relacionadas a sobrecarga e insuficiente recuperação entre jogos.
Enquanto as grandes ligas europeias registraram mais de 4.000 lesões na temporada 2023-24 — com custo estimado em € 732 milhões —, o Brasil encara suas próprias tormentas físicas, expostas em levantamentos recentes da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e em estudos acadêmicos que mapeiam incidência de lesões musculares, articulares e de fadiga.
A Comissão Médica da CBF informou que, desde 2016, com interrupção na pandemia de Covid-19 e retomada no ano passado, realiza mapeamento das ocorrências de lesão nas Séries A, B, C e no futebol feminino A1. No relatório mais recente, envolvendo 1.100 jogos da Série A (944 atendimentos médicos), 1.014 da Série B, 564 da Série C e 560 da divisão feminina, o volume de casos confirma que o problema é amplo.
Em paralelo, um estudo prospectivo sobre lesões musculares entre 2016 e 2018 no futebol brasileiro registrou incidência de 7,66 lesões musculares a cada 1.000 horas de jogo. Outro trabalho apontou que, no Campeonato Brasileiro de 2019, 37,7% das lesões foram distensões musculares, seguidas de contusões (19,1%) e entorses (15,6%).
O calendário que sobrecarrega
A diferença de ritmo entre Brasil e Europa ajuda a explicar parte do fenômeno. Enquanto clubes europeus participam de até 60 jogos anuais, no Brasil, times que disputam estaduais, Brasileirão e torneios continentais frequentemente ultrapassam 70 ou 80 partidas, o que gera efeito cumulativo de fadiga e recuperação insuficiente. Um estudo sobre o histórico brasileiro chegou a registrar mais de 69 jogos em média anual para clubes-referência.
Viagens longas, mudanças de fuso e gramados irregulares aumentam o desgaste: os atletas não apenas competem, mas também sofrem pela logística. Quando a pré-temporada é comprimida ou os reforços chegam em cima da hora, o corpo se ajusta em velocidade, sem a adaptação ideal.
Lesões musculares dominam o cenário
As lesões musculares, especialmente nos posteriores da coxa, são as mais frequentes. O estudo com dados de 2016-2018 registrou 577 lesões musculares em três temporadas nas Séries A e B, demonstrando que esse tipo de contusão não é pontual, mas recorrente. Outro levantamento recente encontrou prevalência de 86,9% das lesões nos membros inferiores, com 38% nas coxas, 15,2% nos joelhos e 9,8% em quadril/virilha.
No futebol feminino de elite no Brasil, o índice também impressiona: 5,0 lesões a cada 1.000 horas de exposição, com 4,2 lesões súbitas por 1.000 horas. Esses números revelam que o desgaste físico se concentra em regiões musculares, articulares e de impacto repetido, fazendo com que muitos clubes encarem ausências que duram semanas e até meses.
Impacto direto em clubes
Quando titulares ficam de fora por lesão, as consequências se materializam em campo com bancadas improvisadas, revezamento de jogadores e ajustes táticos forçados. Além disso, há também um impacto direto nas finanças dos clubes. Se as ligas europeias estimam custos na casa de quase meio bilhão de euros por temporada, no Brasil ainda não há estudo que some todos os gastos de lesões, mas os relatos internos confirmam que tratamentos, reposições e logística elevam os custos significativamente.
O levantamento da CBF mostra que em 1.100 jogos da Série A houve 944 atendimentos médicos, sem discriminar quantos se transformaram em afastamentos longos, o que permite inferir o tamanho do desafio.
Clube com número elevado de lesões pode perder ritmo, rendimento e até posições em uma tabela que é disputada por décimos. A ausência de jogadores-chave, com reposições forçadas, acentua o desgaste esportivo. Por exemplo, levantamentos de imprensa apontaram clubes que registraram mais de 50 lesões em temporada recente, o que obriga a avaliação da profundidade de elenco, da preparação física e da qualidade de recuperação.
Uma equação complicada de resolver
Especialistas ouvidos em estudos sobre futebol brasileiro alertam que a prevenção só funcionará se houver mudança estrutural: ajustes no calendário, mais semanas de pré-temporada, monitoramento individualizado de carga e padronização dos gramados. No relatório da CBF apresentado na conferência internacional de Medicina do Esporte, por exemplo, foram destacados 1.014 atendimentos em Série B, numa amostra de mais de 2.500 jogos mapeados.
Novas metodologias acadêmicas do Brasil também apontam para a necessidade de protocolos uniformes de registro de lesões, exposição horária e recuperação. Outro fator importante: a influência logística e ambiental sobre o desempenho físico é evidente.
Mudanças no calendário e possíveis efeitos
A CBF implementou alterações no calendário do futebol brasileiro em 2025, com antecipação do fim do Brasileirão e ajustes nas datas da Copa do Brasil. O objetivo é reduzir o acúmulo de partidas, melhorar o planejamento dos clubes e dar mais espaço para recuperação dos atletas. A expectativa é que essas mudanças possam diminuir a frequência de lesões, especialmente em atletas titulares que disputam competições simultâneas.
Apesar das alterações, ainda é cedo para avaliar impactos concretos. Dados preliminares sugerem pequenas melhorias na gestão de carga e recuperação, mas a incidência de lesões permanece alta nos períodos de maior intensidade, como clássicos regionais e jogos decisivos de torneios nacionais e continentais. Especialistas em medicina esportiva alertam que a reorganização do calendário é uma medida necessária, porém insuficiente sozinha, sendo preciso combinar com protocolos rigorosos de prevenção, recuperação e planejamento físico.
O desafio estrutural
O panorama evidencia que os clubes brasileiros operam em condições mais exigentes que muitas ligas europeias em termos de logística, gramados e viagens. Com mais jogos por semana, menos tempo para treinos específicos e recuperação limitada, a tendência de lesões continua elevada, reforçando a necessidade de estratégias multidisciplinares. Além disso, a dependência financeira dos clubes em resultados imediatos e a pressão por desempenho dificultam pausas estratégicas, aumentando o risco de novos afastamentos.
Enquanto os efeitos do novo calendário da CBF ainda são observados, o alerta permanece: para reduzir o colapso físico e seus custos associados, é essencial que clubes, atletas e federação adotem medidas integradas, que combinem ajustes de calendário, monitoramento de cargas, prevenção e gestão médica eficiente.
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