Mais de 30 mil moradores que vivem em unidades de conservação (UCs) no Acre ainda convivem com falhas graves no saneamento básico, segundo dados do Censo 2022 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dos 34 mil habitantes dessas áreas, 32.059 vivem com algum tipo de precariedade nos serviços de água, esgoto ou coleta de lixo.
O levantamento mostra que 92% dessa população enfrentam pelo menos uma dificuldade relacionada ao saneamento, e mais da metade (53%) lida com dois ou mais problemas ao mesmo tempo. Quando são considerados apenas os domicílios permanentes — excluindo as habitações indígenas sem paredes — o cenário é ainda mais preocupante: 99,97% das famílias vivem em condições precárias.
Essas informações fazem parte do estudo Áreas Protegidas na Amazônia Legal: Um Retrato Ambiental e Estatístico, lançado nesta quarta-feira (12) pelo IBGE. No Acre, os dados mostram que a maioria dos moradores dessas áreas retira água diretamente de nascentes, rios ou poços rasos — cerca de 27,2 mil pessoas. Além disso, 12,8 mil utilizam fossas rudimentares e 8 mil vivem sem banheiro ou sanitário em casa.
As unidades de conservação acreanas abrigam comunidades extrativistas, indígenas e ribeirinhas. O produtor e líder comunitário Júlio Barbosa, presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), destacou a importância dos dados para solucionar problemas históricos, como a regularização fundiária. “Na Reserva Chico Mendes, estimamos cerca de 10 mil moradores, e entre 500 e mil vivem de forma irregular. Precisamos resolver essa situação junto ao governo para garantir a sustentabilidade da unidade”, afirmou durante o lançamento do estudo na Universidade Federal do Acre (Ufac).
O gerente de territórios tradicionais e áreas protegidas do IBGE, Francisco Damasco, ressaltou que o levantamento representa um avanço histórico. “Chegamos, 25 anos após a criação das reservas extrativistas, com dados muito mais detalhados sobre os limites e a população dessas áreas. Isso permite compreender melhor as necessidades locais e planejar políticas públicas mais eficazes”, destacou.
O Acre tem papel central nesse debate por ser o berço das reservas extrativistas, criadas a partir da luta dos seringueiros na década de 1980. Essas áreas são fundamentais para equilibrar a preservação ambiental com o sustento das comunidades tradicionais — mas os números mostram que ainda há um longo caminho a percorrer para garantir condições dignas de saneamento e qualidade de vida para seus moradores.