Os civis mortos durante a operação policial realizada na última terça-feira (28/10), nos complexos da Penha e do Alemão foram todos identificados como homens, com idades entre 14 e 55 anos. Segundo os dados divulgados pela Polícia Civil, 44 deles (38%) nasceram no estado do Rio de Janeiro. A idade média é de 28 anos e cerca de um terço não possui o nome do pai nos documentos oficiais. Metade dos mortos tinha ao menos um mandado de prisão ou, no caso de menores, de busca e apreensão.
A lista divulgada pela corporação, quase uma semana após a operação que deixou 121 mortos, contém 115 nomes, excluindo os quatro agentes de segurança que morreram durante o confronto. Dois casos seguem sem conclusão pericial. O levantamento traz números de documentos, fotos, dados criminais, informações sobre mandados e perfis de redes sociais.
Veja as fotosAbrir em tela cheia Megaoperação foi deflagrada nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio de JaneiroReprodução: Redes Sociais Megaoperação foi deflagrada nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio de JaneiroReprodução: Redes Sociais Megaoperação foi deflagrada nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio de JaneiroFoto: José Lucena/TheNews2/Estadão Conteúdo Megaoperação foi deflagrada nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio de JaneiroFoto: José Lucena/TheNews2/Estadão Conteúdo Após megaoperação, moradores levaram corpos para praça no Rio de JaneiroReprodução: Globo
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Entre os mortos, 36 constam apenas com o nome da mãe na certidão. A polícia não divulgou informações sobre raça, já que essa informação depende de autodeclaração.
O mais jovem tinha 14 anos e, de acordo com a corporação, era investigado por “fato análogo ao crime de estupro de vulnerável”. O mais velho, Jorge Benedito Barbosa, conhecido como Pará, tinha 55 anos, já havia sido condenado por roubo e faria aniversário na quarta-feira (4).
Três vítimas haviam acabado de completar 18 anos. Outras duas eram menores de idade, duas não tinham data de nascimento registrada e três fizeram aniversário no dia anterior ao confronto.
Um dos mortos, Francisco Myller Moreira da Cunha, chamado de Gringo ou Suíça, nasceu em Manaus, completou 32 anos em 27 de outubro e, segundo o relatório, era apontado como uma das lideranças do Comando Vermelho (CV) no Amazonas. Ele tinha mandado de prisão em aberto e antecedentes por homicídio, tráfico e porte ilegal de arma.
Outro nome citado é Yuri dos Santos Barreto, de 22 anos, que não tinha registro de pai nem local de nascimento informado. Ele aparece em três boletins de ocorrência e, em um deles, teria sido flagrado com granadas artesanais.
Já Ronaldo Julião da Silva, natural de Campina Grande (PB), de 46 anos, foi identificado como alguém que “não possui anotações criminais e não figura como autor ou envolvido em registros de ocorrência”.
Metade dos mortos tinha algum tipo de mandado judicial — em um caso, o de um adolescente. Para 54 nomes, não há informação sobre mandados ou os dados estão incompletos.
Entre os citados está Rafael Correa da Costa, o Rafinha ou Irmãos Sorriso, natural do Pará, apontado pela polícia como liderança do CV em Abaetuba e com cinco mandados ativos. Outro é Victor Hugo Rangel de Oliveira, de 25 anos, natural de São Pedro da Aldeia (RJ), que respondia a quatro mandados e aparecia em registros de ocorrência desde a adolescência. Em suas redes sociais, exibia fotos empunhando dois fuzis.
Vanderley Silva Borges, o Cabeção ou Deley, natural de Goiás, também tinha quatro mandados de prisão por tráfico de drogas.
Os crimes citados pela investigação incluem tráfico, envolvimento com facções, homicídio — inclusive de agentes públicos —, organização criminosa, furto, roubo, porte ilegal de armas, receptação, corrupção ativa, estupro, extorsão, lesão corporal e corrupção de menores.
Doze dos mortos eram considerados lideranças de facções criminosas em outros estados, como Pará, Bahia, Goiás e Amazonas.
A maioria das vítimas nasceu no estado do Rio de Janeiro, com destaque para a capital, citada em ao menos 26 registros. O Pará aparece em seguida, com 19 mortos — principalmente da capital, Belém. Há ainda registros de vítimas de Manaus (AM), Feira de Santana (BA), São Paulo (SP) e Vitória (ES). Nenhum caso foi associado a Minas Gerais ou à região Sul, e dez não têm naturalidade informada.
Redes sociais ajudaram nas investigações
A área de inteligência da Polícia Civil cruzou informações de redes sociais com os dados oficiais para tentar confirmar a ligação dos mortos com o Comando Vermelho. A análise apontou 12 nomes relacionados à facção, mesmo entre pessoas sem antecedentes criminais.
Um dos exemplos citados é o de Tiago Neves Reis, 26, que teria feito publicações com uma bandeira vermelha triangular, interpretada pelos investigadores como símbolo do CV. Ele não tinha mandado de prisão nem registros criminais.
Outro caso é o de Kauã de Souza Rodrigues da Silva, 18, que também não possuía antecedentes. O relatório destaca que suas redes não tinham novas postagens desde 2022, o que poderia indicar “apagamento de perfil”.
Já Alessandro Alves Silva, 19, apareceu em postagens vestido com uma roupa ghillie — usada para camuflagem —, o que levantou suspeita de ligação com o tráfico. Yure Carlos Mothé Sobral Palomo, 23, também foi mencionado; ele tinha uma anotação criminal e fotos empunhando arma de fogo.
As redes sociais também ajudaram a monitorar suspeitos que teriam fugido para áreas de mata. Um caso envolve um homem conhecido como Castanhal, do Pará, que teria escapado da prisão. Pouco após a operação, uma mulher identificada como esposa dele publicou uma foto na região da Vacaria, no Complexo da Penha — onde ocorreu a maior parte das mortes —, dizendo ter ido até o local para recuperar o corpo.
Segundo a polícia, mais de 95% dos 115 nomes analisados apresentavam vínculos com o Comando Vermelho, conforme as conclusões da investigação.