João Pedro Mariano não imaginava que sua trajetória artística ganharia o alcance que tem hoje. Vindo de uma realidade onde sonhar parecia luxo, o ator encontrou no teatro um espaço de liberdade que transformaria completamente sua vida. Em entrevista exclusiva ao portal LeoDias, ele abriu o coração sobre seus primeiros passos na arte; a construção de Luka, personagem que vive um romance com Cristian Cravinhos em “Tremembé”; e o impacto do sucesso recente.
A relação de João com a atuação começou por acaso, impulsionada por uma decisão carinhosa de sua mãe, que buscava novas atividades para ajudá-lo a canalizar a hiperatividade. Ele relembra que tudo começou de forma despretensiosa: “Eu comecei a ir ao teatro sem muita pretensão. Era só mais uma atividade, e eu não fazia ideia da mudança que aquilo traria pra minha vida”. O que parecia apenas um passatempo tornou-se seu abrigo, seu espaço de criação e descoberta. “Eu encontrei ali um espaço onde podia ser quem eu quisesse, sem julgamento. Desde então, sinto que fui picado pelo mosquito da arte e nunca mais saí dela”.
Veja as fotosAbrir em tela cheia João Pedro MarianoFoto: Fábio Audi João Pedro Mariano como Luka em “Tremembé”, série da Prime VideoFoto: Instagram/@_stellacarvalho_ João e Kelner Macedo, que interpreta Cristian Cravinhos em “Tremembé”, série da Prime VideoDivulgação: Prime Video Cartaz do filme “Baby”, protagonizado por João Pedro MarianoReprodução: Instagram/@vitrine_filmes João Pedro Mariano tem 22 anos e já coleciona papéis intensos no audiovisualFoto: Fábio Audi
Voltar
Próximo
Leia Também
Cultura
Como assistir aos 16 filmes que disputam a vaga para representar o Brasil no Oscar 2026
Cultura
Kelner Macêdo entrega bastidores quentes da série “Tremembé”: “Vai pegar fogo!”
Cultura
Prêmio Grande Otelo 2025: Selton Mello vence como Melhor Ator de Longa-Metragem
Redes Sociais
Cristian Cravinhos se irrita e se recusa a explicar romance: “Não devo nada”
Esse encontro com a arte não teria sido possível sem o apoio incondicional da mãe. O ator faz questão de reconhecer a base emocional e material que o sustentou desde o início: “Mesmo vindo de uma realidade em que sonhar parecia impossível, ela sempre acreditou em mim e me deu força pra continuar. Graças a ela, eu pude sonhar, e hoje vivo a realização de desejos que antes pareciam inalcançáveis”.
A memória da primeira vez em que João subiu ao palco continua vívida. “Minhas pernas tremiam igual uma vara verde. Eu lembro que meu coração batia tão forte que parecia que o mundo inteiro tava em silêncio só pra ouvir. E, mesmo tremendo, eu nunca tinha me sentido tão em êxtase, tão feliz, tão vivo”, lembrou. Aquela sensação, disse ele, foi a certeza de que havia encontrado seu lugar no mundo.
Carreira no audiovisual
De lá para cá, João trilhou um caminho que o levou ao cinema e, mais recentemente, ao streaming. Seu primeiro grande desafio no audiovisual veio com o filme “Baby”, lançado em 2024 no Festival de Cannes. O longa rendeu a ele quatro prêmios de “Melhor Ator” e abriu portas inesperadas.
João lembra que, até então, carregava o estigma de que atores de teatro não se encaixavam no cinema. “Quando eu estudava teatro, eu ouvia muito uma espécie de fábula de que atores de teatro não se encaixariam no cinema porque o cinema seria ‘pequeno demais’. E por muito tempo eu acreditei nisso. Achava que queria fazer teatro pra sempre, que o audiovisual não era pra mim. Mas tudo mudou quando eu decidi me arriscar”, contou. A seleção para “Baby” foi a virada de chave: “Ali, uma chave virou completamente na minha cabeça. Eu percebi que esse mundo também podia ser meu”.
Depois do impacto de “Baby”, João chegou mais maduro e tecnicamente preparado para “Tremembé”, onde interpreta Luka, o preso que se apaixona por Cristian Cravinhos dentro de uma penitenciária. Ele explicou que Baby e Luka, embora muito diferentes, compartilham o tema do encarceramento; uma coincidência que, de alguma forma, conectou seus dois primeiros personagens no audiovisual.
“O Baby vive as ruas, busca se entender como indivíduo e tenta reconstruir a própria vida fora das grades. Já o Luka vive o confinamento em si, o dia a dia de um presídio de segurança máxima, onde o tempo e as relações são outras. Ele se apaixona dentro desse espaço e constrói uma afetividade mesmo cercado por violência e controle”, explicou. Já experiente, o ator pôde respirar melhor durante o processo de criação, com mais técnica e preparado emocionalmente.
Preparação para “Tremembé”
Antes da série, João não conhecia a fundo o caso dos irmãos Cravinhos. A porta de entrada foi a leitura dos livros de Ulisses Campbell, onde encontrou um trecho que mencionava a relação entre Cristian e o homem que inspirou Luka. A partir daí, o ator mergulhou no universo emocional do personagem pouco conhecido, usando a dramaturgia como guia. “Como o Luka não era uma figura midiática como os outros personagens do caso, pude criar o meu próprio, dar corpo, voz e alma pra esse homem a partir da sensibilidade, da escuta e do que eu sentia que existia por trás dessa história”, compartilhou.
A criação do ator envolveu também compreender o que significava se apaixonar em um ambiente tão brutal quanto um presídio de segurança máxima. João se dedicou a investigar a delicadeza e a intensidade dessa relação cheia de camadas (amor, desejo, solidão e sobrevivência). Para ele, Luka é um homem à flor da pele, sempre prestes a transbordar: “Durante o processo, eu dizia que o Luka tinha ‘os olhos cheios d’água’, sabe? Aqueles olhos que estão prestes a transbordar. Porque pra mim ele é exatamente isso: um cara que ama com tanta intensidade que parece estar sempre à beira de explodir em sentimento. Ele quer existir pra alguém, quer ser visto, ser cuidado, ser amado”, definiu.
Um dos aspectos mais marcantes foi explorar o feminino do personagem, algo que surgiu já no briefing inicial. Luka entrou no presídio usando roupas femininas, o que exigiu de João uma nova investigação corporal. A experiência de usar salto alto pela primeira vez, por exemplo, virou parte essencial da composição. “Foi a primeira vez que subi num salto na vida. E é difícil, viu? O salto me deu outro corpo, outro equilíbrio, outro jeito de andar, de ocupar o espaço. Foi como descobrir uma nova versão de mim”, disse.
Sucesso e exposição
O resultado desse mergulho foi imediatamente percebido pelo público. João se emociona ao falar sobre a repercussão: “Eu tô muito feliz, de verdade, nunca recebi tanto carinho na rua, tantas mensagens, tanta gente vindo conversar comigo, me reconhecendo, falando sobre o Luka e sobre as cenas”. O sucesso de “Tremembé” também reacendeu o interesse do público por “Baby”, o que o deixa especialmente tocado. “É como se as pessoas estivessem descobrindo todo o meu percurso como ator”, analisou o artista.
Com a fama, veio também o assédio e a curiosidade sobre sua vida pessoal, algo que ele encara com cautela e sinceridade. “Estou aprendendo a lidar, entendendo o que quero dividir e o que quero preservar”, afirmou. O carinho, porém, é o que guia esse momento: “Estou vivendo essa fase com o coração aberto, tentando equilibrar o João pessoa e o João artista”.
Essa trajetória, que começou com pernas trêmulas em um palco inicialmente escolar, hoje o coloca entre os nomes mais promissores de sua geração. Entre o teatro e o audiovisual, João encontrou duas linguagens que se complementam e o transformam. “Cada um me ensina um novo jeito de olhar o mundo, de existir e de criar”. E é justamente dessa soma que nasce um artista disposto a seguir explorando novas camadas de si mesmo, bem como dos personagens que ainda virão.