A negociação para trazer Antonio Fagundes de volta às novelas da Globo extrapolou a dramaturgia e chegou diretamente à alta cúpula da emissora. O desfecho só foi possível após a entrada em cena de Amauri Soares, diretor-geral da TV Globo, que teve papel decisivo para que a emissora abrisse exceção às próprias regras e garantisse o retorno de um dos maiores nomes de sua história para “Quem Ama Cuida”, novela de Walcyr Carrasco e Claudia Souto que substituirá “Três Graças” no horário das nove a partir de maio.
Fagundes deixou a Globo em 2020, encerrando um vínculo de mais de quatro décadas com a emissora. Desde então, seu nome esteve em praticamente todas as listas de desejos da dramaturgia. Convites não faltaram. O problema nunca foi artístico — sempre foi de agenda. Há anos, o ator mantém uma exigência inegociável: gravar apenas às segundas, terças e quartas-feiras, preservando o restante da semana para o teatro, sua grande prioridade. Um modelo que, nos últimos tempos, passou a encontrar mais resistência dentro da Globo.
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Com a política interna mais rígida e menos aberta às chamadas “benesses” para veteranos, a volta de Fagundes parecia improvável. Até que Walcyr Carrasco bateu o pé. O autor queria o ator de qualquer maneira para esta novela e deixou isso claro desde o início das conversas. Ao lado dele, a diretora artística Amora Mautner também comprou a briga, defendendo que a presença de Fagundes era estratégica, simbólica e fundamental para uma novela das nove que nasce com a missão de reconquistar parte do público que sente falta de grandes medalhões em cena.
A resistência interna fez o caso subir degrau por degrau até chegar ao topo da emissora. Foi aí que Amauri Soares entrou definitivamente na negociação. Figura controversa dentro e fora da Globo — conhecido por decisões conservadoras, intervenções criativas que renderam críticas e por posturas que dividiram opiniões em novelas recentes —, Amauri assumiu, neste episódio, um papel que surpreendeu até mesmo alguns interlocutores.
Segundo fontes da coluna, o diretor entendeu que o momento da dramaturgia exigia gestos simbólicos e estratégicos. A Globo perdeu muitos atores veteranos nos últimos anos e enfrenta uma cobrança clara do público por nomes que carreguem memória afetiva, autoridade cênica e identificação imediata. Para Amauri, abrir exceção para Fagundes não era um privilégio individual, mas uma decisão editorial e de mercado.
Com isso, a emissora aceitou adaptar a produção ao modelo de trabalho do ator, concentrando suas gravações em três dias da semana. Um movimento raro nos padrões atuais da Globo — e que só aconteceu porque houve aval direto da direção-geral.
O acordo selou o retorno de Antonio Fagundes às novelas após cinco anos fora do gênero e marca um ponto fora da curva na atual gestão. Mais do que garantir um nome de peso no elenco de “Quem Ama Cuida”, a decisão reposiciona Amauri Soares em um papel menos rígido do que aquele que costuma lhe ser atribuído. Ao bancar Fagundes, ele sinaliza que, em determinados momentos, a emissora está disposta a rever dogmas para fortalecer sua dramaturgia.
Nos bastidores, a avaliação é clara: ter Antônio Fagundes de volta no horário nobre valeu a exceção. E, dessa vez, o empurrão final veio justamente de quem muitos não esperavam.