O senador Alessandro Vieira disse na Comissão de Constituição e Justiça do Senado que o ministro Alexandre de Moraes participou da elaboração do PL da Dosimetria.
“O grande acordo envolve diretamente o ministro Alexandre de Moraes, que se entende no direito de interagir com senadores e deputados, sugerindo inclusive texto, enquanto ao mesmo tempo na tribuna da Suprema Corte verbaliza o contrário, que o Congresso vai muito mal. Este texto é fruto de um acordo do governo Lula, parte da oposição, o ministro Moraes, dentre outros ministros”, afirmou o senador.
Em entrevista ao jornalista Josias de Souza, Alessandro Vieira foi contundente na sua crítica a Alexandre de Moraes:
“O ministro Alexandre conversou com vários senadores, discutiu detalhes de redação, sugeriu redações e, depois, faz discurso da tribuna do STF, dizendo que é contra essas mudanças que atentam contra a democracia. Defesa da democracia virou desculpa para qualquer canalhice. As pessoas fazem no escurinho uma coisa, mas pegam o microfone e são defensoras da democracia, e aí a gente tem que se perguntar que democracia é essa.”
Que democracia é essa ecoa aquela outra pergunta de que país é esse, e a resposta para ambas é simples no determinismo: somos um país tropical, uma democracia tropical, o nosso clima apodrece tudo rapidamente, quando não faz que as coisas já nasçam meio estragadas.
O acordão para o PL da Dosimetria é só mais um capítulo da nossa história pervertida, não o pior de todos, devo dizer, e causa espanto apenas em quem não conhece o Brasil ou reluta a aceitar a realidade nacional que o algoz dos bolsonaristas possa ter participado da jabuticaba para aliviar a cana de gente que condenou a penas francamente ridículas de tão longas.
O único dado original nisso tudo é que nunca houve homem tão poderoso na história da República como Alexandre de Moraes, à exceção do ditador Getúlio Vargas e dos generais-presidentes do regime militar.
Nem Gilmar Mendes chega a ter tanto poder, embora não se deva brincar com ele de jeito nenhum.
O decano do STF sempre esteve mais para eminência parda, apesar do seu comportamento não raro esfuziante; Alexandre de Moraes, por sua vez, apresenta-se aos brasileiros como o portador infalível de verdades indiscutíveis. Ele é o Verbo encarnado da democracia e da justiça.
Os imperadores romanos se acreditavam deuses, e aassistimos a fenômeno semelhante no Brasil. A crença de ser portador de uma missão divina — e, portanto, dotado de natureza divina — é a única explicação para que Alexandre de Moraes não veja problema em ser vítima, investigador, acusador e juiz em um mesmo processo.
Por ter natureza divina, Alexandre de Moraes é ubíquo nos processos e na política, como se vê agora, no caso do PL da Dosimetria. Ele condenou bolsonaristas; ele legisla para diminuir a pena de quem condenou, deixando aberta a possibilidade de beneficiar o ex-presidente do qual foi carrasco implacável; e ele manifesta publicamente oposição ao projeto de lei que ajudou a escrever. Pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo.
Obviamente, como Verbo Encarnado, o ministro não se sente obrigado a dar explicações sobre nada, muito menos sobre o incrível sucesso do escritório de advocacia da sua mulher. Alexandre é Deus e também o Seu profeta.