O mês de dezembro costuma reunir expectativas, balanços pessoais e o desgaste acumulado ao longo do ano. Nesse cenário, conflitos familiares — muitas vezes evitados nos outros meses — tendem a ganhar força. Segundo a psicóloga Blenda Oliveira, doutora em Psicologia pela PUC-SP, isso acontece porque “o fim do ano funciona como um amplificador emocional. Tudo que foi engolido ao longo dos meses ganha volume quando nos aproximamos da família e do encerramento de um ciclo.”
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De acordo com a especialista, as festas reacendem papéis antigos dentro da dinâmica familiar, muitos deles pouco saudáveis. É comum que adultos voltem a ocupar posições infantis ou que diferenças de valores apareçam de maneira mais nítida. “Há famílias que evitam conflitos o ano inteiro e se veem pressionadas a parecer unidas em dezembro. Essa pressão por harmonia gera o efeito contrário”, afirma.
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Blenda recomenda iniciar o processo antes dos encontros, com preparação emocional. Isso inclui reconhecer gatilhos, identificar temas sensíveis e ajustar expectativas. “Quando você aceita que sua família não será a que está na propaganda de TV, reduz a frustração e evita cobranças irreais”, diz.
Limites: proteção, não ruptura
Estabelecer limites claros é um dos passos centrais, especialmente diante de comentários invasivos ou conversas desgastantes. A psicóloga ressalta que “limite não é desrespeito, é autocuidado. Ficar em silêncio diante de comentários invasivos não significa maturidade, significa sobrecarga”. Ela lembra que é válido mudar de assunto, se afastar por alguns minutos ou até recusar determinadas discussões.
Durante os encontros, pequenos recursos ajudam a evitar reações impulsivas: respiração consciente, pausas rápidas e atenção às próprias emoções. Blenda também sugere combinar sinais com uma pessoa de confiança para intervir e mudar o rumo de conversas quando necessário.
Expectativas, gerações e comparações
As diferenças geracionais tendem a aparecer com mais força nesta época. Comentários sobre carreira, aparência, relacionamentos ou estilo de vida surgem frequentemente sem filtro. A psicóloga reforça que “a opinião do outro não define quem você é. Você não precisa se explicar para validar suas escolhas”.
Quando conflitos emergem, ela recomenda esperar o momento certo para conversas profundas. “O clima festivo misturado com emoções fortes raramente favorece diálogos produtivos. Há discussões que precisam ocorrer em outro momento, com mais calma”, explica.
Participar é escolha, não obrigação
Blenda destaca ainda que ninguém é obrigado a se manter em ambientes que ultrapassam seus limites. Reduzir o tempo da visita ou optar por uma celebração alternativa pode ser uma forma de preservar a saúde emocional. “Cuidar de si não é egoísmo. É maturidade reconhecer o que faz bem e o que ultrapassa seus limites”, conclui.