Brasil emite certidão de óbito de pianista morto na Argentina em 1976

Brasil emite certidão de óbito de pianista morto na Argentina em 1976

A certidão de óbito do pianista brasileiro Francisco Tenório Cerqueira Júnior, mais conhecido como Tenório Jr., foi emitida pelo 4º Ofício do Gama, no Distrito Federal. A informação foi confirmada ao Metrópoles nesta terça-feira (23/12) pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC).

Segundo a pasta, o documento foi expedido após solicitação da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP). Tenório Jr. desapareceu em 18 de março de 1976, após deixar o Hotel Normandie, na região central de Buenos Aires, às vespéras da ditadura militar argentina.

Relembre o desaparecimento do pianista

  • O corpo do pianista brasileiro Francisco Tenório Cerqueira Júnior foi identificado pela Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF) em 13 de setembro deste ano. A identificação ocorreu por meio das impressões digitais.
  • Apesar disso, os restos mortais do músico não foram recuperados. As investigações apontam que o corpo foi enterrado como “não identificado” no cemitério de Benavídez, na província de Buenos Aires.
  • Tenório Jr. tinha 35 anos quando chegou à capital argentina, em março de 1976, para acompanhar Vinícius de Moraes e Toquinho em uma turnê. O desaparecimento ocorreu poucos dias antes do golpe militar que depôs a então presidente Isabelita Perón.
  • De acordo com informações do governo argentino, dois dias após o desaparecimento do pianista, o corpo de um homem foi encontrado em um terreno baldio na Rua Belgrano, no bairro de Tigre. Tenório Jr. teria sido confundido com um militante político e detido por agentes do serviço secreto da Marinha argentina.

Na ocasião, foi iniciado um processo de identificação, com a coleta das impressões digitais e a realização de autópsia. Mesmo assim, o corpo acabou enterrado como não identificado em 20 de março de 1976.

Também em setembro deste ano, a família do artista recebeu o laudo oficial que aponta a causa da morte. De acordo com o documento, ele foi executado com cinco tiros, sendo um na cabeça, dois no braço esquerdo e três no tronco.

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Linha de investigação

Anos depois, a Procuradoria de Crimes Contra a Humanidade da Argentina abriu investigações sobre processos judiciais iniciados na província de Buenos Aires entre 1975 e 1983. As ações analisam casos de cadáveres encontrados em vias públicas e enterrados sem identificação, com o objetivo de contabilizar vítimas do regime militar.

Na sequência, a Câmara Federal de Recursos Criminais e Correcionais da Capital Federal determinou a comparação das impressões digitais coletadas em 1976 com as de Tenório Jr., arquivadas no Brasil.

A identidade do pianista foi confirmada, e a família foi oficialmente notificada pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos e pelo procurador Ivan Marx, conselheiro do colegiado.

Em 2013, a Comissão Nacional da Verdade, no Brasil, iniciou uma investigação para tentar localizar os restos mortais do músico, a pedido da família. Tenório Jr. deixou a esposa, Carmen Cerqueira — grávida de oito meses à época — e outros quatro filhos.

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