Você provavelmente já ouviu a história de que o Natal tem seu berço em Belém, onde Jesus recebeu a visita dos Três Reis Magos na manjedoura. Ou talvez tenha ouvido falar que a comemoração nasceu por causa das festas de solstício de inverno na época do Império Romano.
Mas e se a gente te contar que Natal nasceu em Araripina, no interior pernambucano, há apenas 30 anos? Foi bem ali, no nordeste do Brasil, que Natal deu seu primeiro choro, foi amamentado pela mãe e começou a andar, bem antes de se mudar para São Paulo.
Claro, esse texto não é sobre a história da festa cristã. Ou não só sobre isso. É também sobre Natalino dos Santos, conhecido entre os amigos como Natal. E ainda sobre a paranaense Natalina Soares, que há seis décadas comemora o dia 25 de dezembro com bolo de aniversário. Além dos milhares de brasileiros com nomes inspirados na festa.
Natalina, de Presidente Prudente, nasceu no dia 25 de dezembro e adora celebrar o aniversário no Natal: “Me sinto privilegiada”
Arquivo pessoal
“Sempre na virada para meia noite é aquela festa, todo mundo dá feliz natal e já canta o parabéns”, conta Natalina
Arquivo pessoal
Assim como no caso de Natalino, Natalina também teria um nome diferente, mas teve o nome alterado ao nascer no dia 25 de dezembro
Arquivo pessoal
Natalino diz que dia 25 tem bolo e ceia. Tradição começou por influência da esposa, que adora a data
Arquivo pessoal
Dados do Censo de 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que o Brasil tem mais de 16 mil Natalinos. O estado campeão de moradores com esse nome é São Paulo, onde mora hoje Natalino dos Santos, que abriu essa reportagem.
O nome, claro, já dá o spoiler: ele também nasceu no dia 25 de dezembro. “Meu nome era pra ser Cirilo”, conta o comerciante, explicando que sua mãe mudou de ideia quando deu à luz em pleno Natal.
Sua mãe queria nome de santo. E Cirilo era isso para o cristianismo. Cirilo, um diácono em Constantinopla, foi um dos grandes responsáveis pela expansão do cristianismo entre os eslavos do Leste Europeu no século IX. Uma das realizações mais importantes de São Cirilo foi a elaboração de um alfabeto adaptado às línguas eslavas, conhecido posteriormente como alfabeto cirílico. Assim descrevem as editoras especializadas, sites de pesquisa, verbetes, dicionários internacionais e afins o São Cirilo de Alexandria. Mas eis que havia também o São Cirilo de Jerusalém, venerado por ortodoxos, anglicanos e católicos, no século IV.
Apesar da ligação direta com a data, Natalino, que por um triz não foi batizado como Cirilo, conta que a família não tinha condições de celebrar nem a festa cristã nem seu aniversário com grandes pompas durante sua infância. Uma triste realidade que abate milhares de famílias ainda hoje. A única tradição daquela época era ganhar uma caixa de chocolates da mãe ao acordar no dia 25 de dezembro.
Leia também
-
Microbiologista explica como evitar a intoxicação alimentar no Natal
-
Metrópoles Run transforma o Natal de centenas de crianças com doações
-
Criança de 9 anos morre ao levar choque em decoração natalina na Bahia
-
Como fazer uma linda mesa posta de Natal, segundo experts
Foi só anos depois, quando conheceu a esposa, e já em São Paulo, que os costumes da festa entraram de vez na vida dele, com direito a casa decorada com árvore e pisca-pisca, e ceia para celebrar. Além do bolo, é claro.
“Quando não tem bolo, tem um parabéns, uma comemoraçãozinha com ceia”, diz ele, que no ano passado voltou a Pernambuco com a esposa e os filhos para fazer a celebração junto com a mãe, responsável pelo seu nome. “Foi o meu melhor Natal”, eterniza.
“Me sinto privilegiada”
O caso da aposentada Natalina Soares, que mora em Presidente Prudente, no interior paulista, é outro de apego à data. Ela sempre adorou fazer aniversário no dia 25.
“Eu acho uma delícia! Tem um significado, o nascimento de Jesus. Eu acho uma data tão especial que me sinto privilegiada”, conta ela, rindo. “Sempre na virada para meia-noite é aquela festa, todo mundo dá feliz natal e já canta o parabéns”.
Dos nomes mais comuns ligados ao Natal e pesquisados pelo Metrópoles, Natalina é disparado o que tem mais representantes. São 21.116 pessoas no Brasil.
Católica, ela diz que parte da sua tradição pessoal é ir à missa no dia 24. “Nunca deixei de ir na missa na véspera. Teve um Natal que eu fui catequista e servi na missa das crianças no dia do meu aniversário”, lembra ela.
Para a aposentada, o seu nome, um tanto quanto incômodo na infância por associação a pessoas mais velhas, hoje é sinônimo de festa. Especialmente por causa do meme “Valeu, Natalina”. “Até hoje tem amigos meus que postam o vídeo e me marcam para dar parabéns”, brinca.
Variações
Outros nomes brasileiros são inspirados pela data comemorativa, além de Natalina e Natalino, como Natal e Noel, que, somados, chegam ao total de 60.664 registros.
Natal, por exemplo, são 8.149 pessoas com esse nome no país, segundo o IBGE, enquanto 15.301 foram batizados como Noel.
A reportagem até tentou contato com um homem chamado Natal Junior, mas, pela falta de resposta, interpretamos que as máquinas de presentes não puderam parar bem às vésperas da festa.
Assim como Natal Junior, a grande maioria dos batizados como Natal são moradores de São Paulo (2.535). O estado é seguido por Goiás (837) e pelo Paraná, com 824 registros. Segundo o Censo, a idade mediana desses brasileiros é de 58 anos, com a maioria tendo nascido entre 1960 a 1969 (2.131). Um feliz natal e feliz aniversário a todos os envolvidos.