“Ele não deveria estar preso, mas internado”, diz irmã de detento cego

“Ele não deveria estar preso, mas internado”, diz irmã de detento cego

Emilia Damasceno, 55 anos, irmã de Ernesto Floriano Damasceno Vilanova, afirma que o irmão não deveria estar preso, mas internado para tratamento médico. Segundo ela, a família não tem condições de arcar com os custos, mas o Estado deveria se responsabilizar por um acolhimento digno ao familiar. Ernesto é cego de um olho, tem deficiência intelectual, é gago e desapareceu após ser solto sem aviso prévio à família no domingo (28/12).

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A família e a defesa não foram informadas sobre a soltura de Ernesto. Pouco tempo depois que saiu do Centro de Progressão Penitenciária (CPP), no Setor de Indústrias e Abastecimento (SIA), a tornozeleira eletrônica que monitorava o detento perdeu sinal, impossibilitando a fiscalização da prisão domiciliar, e ele foi dado como desaparecido. Cartazes foram espalhados pela cidade à procura do detento.

Ernesto foi preso em 28 de novembro, inicialmente por briga e ameaça contra a cunhada, com quem morava junto ao irmão. Um mês depois, nesta sexta-feira (26/12), um alvará foi emitido para a liberação dele no CPP. A ideia era que o detento cumprisse prisão domiciliar, mas a família não foi notificada.

“Ele sempre viveu de favor na casa desse nosso outro irmão, que é casado com essa mulher que o acusou. Tem que ter paciência para cuidar, porque ele tem crises de agressividade mas é doença mental. Ele é gago, mal sabe se comunicar. Precisa estar constantemente sob efeito de medicação diárias se não acontecem as crises”, conta a irmã.

Emilia detalha que os policiais o colocaram em um ônibus na Rodoviária do Plano Piloto, com instruções para o motorista, mas isso não ajudou. “Ernesto não sabe voltar sozinho para casa, e o motorista não poderia levá-lo até a porta. Bastava um pouco de sensibilidade para que a família fosse avisada. Quando finalmente o encontramos, corremos para recarregar a tornozeleira que havia descarregado, mas ainda assim entenderam que ele estava fugindo”, concluiu.

Ernesto foi localizado no BRT de Santa Maria nessa segunda (29/12), quando uma cobradora de ônibus o reconheceu após reportagem publicada pelo Metrópoles. A família conseguiu, então, recarregar a tornozeleira.

Em vídeo gravado pela irmã, a mãe de Ernesto aparece emocionada, abraçando o filho e perguntando preocupada se alguém havia batido nele. Ernesto tentou responder, mas teve dificuldade.

Sem prisão domiciliar

A decisão pelo retorno de Ernesto à prisão foi tomada ainda na segunda-feira, pelo 2º Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Ceilândia. O juiz substituto plantonista, Pedro Matos de Arruda, afirmou que a prisão domiciliar exige o cumprimento rigoroso das condições impostas, o que não ocorreu.

“A permanência no endereço e o funcionamento do equipamento eletrônico são centrais, e o descumprimento dessas obrigações resultou na perda do controle sobre a localização do acusado”, diz a decisão.

Sobre a falta de comunicação com a família do detento no momento da soltura, a Seape explicou que a decisão judicial não previa aviso à defesa ou à família, mas que o alvará ficou disponível para consulta no processo judicial.

“A soltura de custodiados ocorre mediante o recebimento e o cumprimento do respectivo alvará judicial, conforme os termos expressamente estabelecidos na decisão. Ressalta-se que não consta, na decisão judicial em questão, determinação para comunicação formal da expedição do alvará de soltura a advogados ou familiares”.

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