As canetas emagrecedoras se tornaram populares no Brasil e no mundo, mas médicos têm reforçado os perigos de usar esses medicamentos sem orientação profissional — principalmente quando o objetivo é apenas perder alguns quilos rapidamente.
A advogada carioca Gabriela, de 40 anos, é um exemplo de quem buscou o medicamento por conta própria. Depois de tentar dietas rígidas e treinos intensos seis vezes por semana, ela decidiu usar Ozempic em 2024. Comprou o produto sem receita, mesmo sem encaixar nos critérios médicos de indicação.
Os efeitos apareceram rápido. “Eu comia pouco e já me sentia totalmente cheia”, contou. Desde então, faz uso intermitente das canetas e diz que o resultado no espelho influencia diretamente sua autoestima.
Venda irregular e riscos graves
O crescimento do uso por conta própria chamou a atenção da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e de autoridades policiais. Na quinta-feira (27), a Polícia Federal realizou uma operação contra um grupo que fabricava e vendia ilegalmente tirzepatida, substância presente nas canetas Mounjaro.
Entre os investigados está o médico Gabriel Almeida, de São Paulo, suspeito de facilitar a venda dos produtos e promovê-los nas redes sociais como tratamentos liberados. A defesa nega irregularidades e diz que suas ações têm caráter científico.
Mesmo aprovadas para tratar obesidade e diabetes tipo 2, essas canetas só devem ser usadas com receita e acompanhamento médico. Para especialistas, o uso sem supervisão pode causar náuseas, vômitos, diarreia, perda de visão, gastroparesia (quando o estômago “para”) e até morte.
Um caso recente na Paraíba chamou atenção: uma jovem de 31 anos morreu após usar a medicação por conta própria e ter uma queda severa de glicemia, que levou à perda de consciência e broncoaspiração.
Uso por estética cresce nas redes sociais
Medicamentos como Ozempic, Wegovy e Mounjaro se espalharam pela internet, impulsionados por influenciadores, celebridades e relatos de “antes e depois”. No TikTok e no Instagram, são milhares os posts mostrando resultados rápidos de emagrecimento.
O endocrinologista Simon Cork alerta que “praticamente não existem estudos sobre o uso desses remédios apenas por estética”. Segundo ele, os riscos aumentam quando pessoas saudáveis usam doses inadequadas ou aplicam o medicamento de forma intermitente.
Mesmo em países com regras rígidas, como o Reino Unido, farmácias online continuam vendendo as canetas após simples questionários, sem verificar se o paciente realmente precisa.
Perda de massa muscular e efeito sanfona
Outro ponto de preocupação é que pessoas magras, ao usarem essas canetas, podem perder mais músculo do que gordura. “Quando recuperam o peso, voltam com pior composição corporal”, explica o endocrinologista Bruno Halpern.
Além disso, interromper o uso costuma levar ao retorno do peso perdido, o que gera frustração e afeta a saúde mental.
Mesmo diante dos riscos, Gabriela afirma que não tem intenção de parar. Ela admite que ficou “viciada” na sensação de emagrecimento rápido. O executivo britânico Andrew, que também usa as canetas só por estética, diz que encara o tratamento como um compromisso permanente.
Para especialistas, essa rotina pode criar uma relação emocional perigosa com a droga, reforçando a ideia de que o corpo só é aceitável se estiver sempre magro.
A recomendação segue a mesma: esses medicamentos são indicados para pacientes com obesidade ou condições específicas, não como ferramentas cosméticas. O uso por conta própria pode trazer consequências sérias para a saúde.