Na manhã desta segunda-feira (29/12), o ex-executivo de futebol do Corinthians, Fabinho Soldado, conversou com exclusividade com o Portal LeoDias Esportes sobre sua saída do cargo e ida para o Internacional, de Porto Alegre. Entre os questionamentos, a repórter Daniela Scatolin também citou fatos apurados por nossa equipe de jornalismo que, semanas antes da saída de Soldado, descobriu um encontro “secreto” entre um ex-poderoso dirigente do Corinthians, contrário à permanência do dirigente, e o atual presidente, Osmar Stábile, incendiou os bastidores do clube.
Em 13 de novembro, uma cena chamou a atenção de uma fonte do Portal LeoDias: o presidente do Corinthians, Osmar Stábile, se encontrou com Rubão, ex-diretor de futebol do clube, em um restaurante da Zona Norte de São Paulo, e seguiram caminhando pela calçada em uma conversa que se estendeu por cerca de uma hora. No trajeto, pararam em uma pizzaria, onde estavam dirigentes, conselheiros e também membros da torcida Gaviões da Fiel.
Veja as fotosAbrir em tela cheia O presidente do Corinthians cumprimenta o ex-diretor com um abraçoPortal LeoDias O presidente do Corinthians, Osmar Stábile, deixa o restaurante ao lado de Rubão e segue com ele até a calçada, onde os dois continuam a conversaPortal LeoDias O presidente do Corinthians cumprimenta o ex-diretor, Rubens GomesPortal LeoDias Fabinho Soldado confirma acerto com Internacional ao Portal LeoDiasReprodução/Instagram: @fabinhosoldado.futebol
Voltar
Próximo
Leia Também
Esportes
Corinthians blinda futebol e amplia funções de Fabinho Soldado, diz presidente
Esportes
“Eu estava incomodando algumas pessoas” , relata Fabinho Soldado sobre os bastidores de sua saída do Corinthians
Esportes
“Quero cantar o poporópopó com a galera”, diz Marcelo Paz ao assumir o futebol do Corinthians
Quatro dias depois, questionado pela reportagem se isso teria algo relacionado a uma possível volta de Rubão ao futebol do Alvinegro, Stábile foi enfático: “Em hipótese alguma, não existe qualquer chance. Foi coincidência. Você vê como as coisas acontecem do nada, né?”.
Há uma verdade na declaração: de fato, Rubão não assumiria o cargo máximo do futebol do Corinthians. A “quase verdade” é que todos os que se encontraram concordavam e pressionavam Stábile pela demissão de Fabinho Soldado. Por dois motivos principais: o alto salário, aproximadamente R$ 400 mil mensais, que ajudava a inflar a folha salarial de um clube com dívidas bilionárias, e a dificuldade de tomadas de decisões de terceiros sobre assuntos internos do Centro de Treinamentos Joaquim Grava, onde ficam atletas e comissão técnica.
Mesmo assim, o atual presidente não titubeou diante da pergunta da reportagem: “Fabinho continua firme e forte. Estava fazendo o planejamento de 2026 com ele agora aqui”.
No último dia 23, dois dias após a conquista do título da Copa do Brasil, o Corinthians anunciou, em nota oficial, a saída de Fabinho.
“O Sport Club Corinthians Paulista informa que o executivo de futebol Fabinho Soldado não faz mais parte do Departamento de Futebol do Clube. A decisão foi tomada em comum acordo entre as partes.”
Em entrevista exclusiva ao LeoDias Esportes, por telefone, Fabinho Soldado afirmou que segue para assumir o mesmo cargo no Internacional de Porto Alegre. Feliz pela parceria com Abel Braga, que, em 2006, era seu treinador no Colorado e, naquele ano, conquistaram juntos a Copa Libertadores da América e o Mundial de Clubes da FIFA, mas também demonstrou certo desapontamento com a saída do Corinthians.
“A vontade que eu tinha de sair? Nenhuma. Poxa, eu ganhei uma Copa do Paulista, uma Copa do Brasil… tudo para a gente poder dar seguimento.”
Leia abaixo a entrevista na íntegra, em que Soldado conta os bastidores do seu trabalho no clube até a saída e fala também da sua relação estreita com os jogadores, principalmente Memphis Depay.
LDE: Em conversa com o LeoDias Esportes, em 17 de novembro de 2025, o presidente do Corinthians, Osmar Stábile, confirmou a sua permanência para o próximo ano e disse que já estavam fazendo juntos o planejamento para 2026. Era verdade, ele estava sendo político ou algo aconteceu nesse meio tempo?
Fabinho Soldado: Quanto a isso, eu não posso, com respeito ao clube e ao profissional que acabou de chegar aí, que é um grande amigo, o Marcelo (Paz), e eu não quero mais falar sobre esta questão do Corinthians, até porque eu já estou caminhando para outro lugar.
O que eu posso dizer é o seguinte: as pessoas estavam falando que o Inter, o Inter… na verdade, o Inter sempre me procurou, como outros clubes já tinham procurado e conversado. Isso é uma situação muito natural no mercado.
O que aconteceu foi que eu fui muito claro na entrevista pós-jogo: infelizmente, a gente sabe que tem um grupo político do Corinthians que a minha presença atrapalhava. E, como eu disse, parece que o profissionalismo, de alguma forma, estava incomodando algumas pessoas.
É isso. Agora, uma proposta de outro clube, a vontade que eu tinha, que eu tenho de sair… nenhuma. Imagina. Eu ganhei dois títulos no Corinthians. Poxa, eu ganhei uma Copa do Paulista, uma Copa do Brasil… tudo para a gente poder dar seguimento.
O clube, sabe, ter uma… não vou dizer “paz”, porque clube de futebol, os contextos são bem parecidos. Mas eu não sentia isso na parte da política. Algumas pessoas estavam muito próximas ao presidente. Então, por isso que eu tomei essa decisão de realmente deixar o cargo aberto para que tivesse outra pessoa e pudesse, como eu falei, melhorar aquilo que eu não consegui melhorar.
Então… mas eu não quero, sabe? Eu não quero nem falar de Corinthians. Eu quero só torcer pelo Corinthians. Eu quero falar agora do que tem para frente. Eu não sou esse profissional que vai ficar remoendo.
Claro, eu estou aqui na minha. Se eu perceber que está tendo alguma informação que, poxa, não está legal, aí eu vou falar.
LDE: A informação que vamos te passar é a seguinte: dentro dessa análise jornalística que o LeoDias Esportes estava trabalhando sobre a política interna do clube, pessoas da diretoria e do conselho relataram que grande parte dos dirigentes não apoiava a sua permanência lá.
Por conta de que eles queriam enxugar a folha salarial e também porque você era totalmente “fechado” com os jogadores. E isso causava um pouco de distanciamento da diretoria e da presidência com o elenco. Era assim mesmo?
Fabinho Soldado: Ué… mas isso está errado?
LDE: Digamos só pelo fato de a gestão estar dividida, polarizada…
Fabinho Soldado: Não, mas assim, respondendo à minha pergunta… por isso eu fui muito direto quando falei da questão política. Olha o que incomoda as pessoas: isso deveria ser algo positivo, né?
Um executivo que consegue ter relação muito franca com os jogadores. Que, na hora que atrasa um pagamento — não teve uma greve no clube, os jogadores ninguém se manifestou — quando teve algum problema, a gente sempre contornou os problemas entre nós.
Isso é, na verdade… isso é uma habilidade que agora o Marcelo (Paz) vai ter que ter. Eu vou precisar ter essa habilidade no Inter. Isso é algo que é muito positivo.
Então, assim, isso era o que incomodava: a relação minha que eu tenho. O Hugo, o Mateuzinho e o Ranieri acho que até falaram demais, né? Eles estavam empolgados (rs)… até falaram que, na hora em que acertaram a premiação com o presidente, eles comemoraram com “poropopó”.
Porque a relação que o presidente tem hoje com o time é muito próxima. E eu sempre fiz questão de aproximar o presidente a tudo isso. Não só com os atletas, mas com a comissão técnica.
A relação que o Osmar tem hoje com o Dorival é absurda. O que acontece é que a relação — espero que ele consiga manter — hoje com o futebol é do presidente e do executivo. E de mais ninguém. E isso é o que tem que ser.
É porque estavam acostumados com outro acesso. Se você ligar para o Bap e perguntar como funciona isso no Flamengo, ou como funciona no Palmeiras, que é o nosso arquirrival, ou no Bahia… é assim que funciona.
O estatutário não tem que ter acesso a jogador o tempo inteiro. Ele não tem que ter acesso à comissão técnica. Este é o maior problema: todo mundo quer ter acesso, todo mundo quer falar.
LDE: De uma forma ou de outra, você brecava isso.
Fabinho Soldado: Assim… e não era brecar… Sim, você pode usar a palavra “brecar”, ok. Eu até deixo você colocar isso. Mas não é isso. Não é que eu brecava.
O funcionamento do departamento precisa ser assim. Por exemplo, as viagens: não iam mais diretores nas viagens com o elenco. Porque não tem que ter.
Então, o nosso dia a dia foi pautado, foi moldado para assuntos extremamente profissionais. É assim que funciona.
E isso não foi só eu, não, tá? Isso foi uma colocação do próprio Osmar. O Osmar dizia isso.
LDE: O presidente Osmar entendia que você estava a favor dele, mesmo após tantas críticas públicas suas e do Dorival Júnior à gestão?
Fabinho Soldado: Se você for ver todas as minhas entrevistas, essas últimas, eu sempre falei do presidente Osmar, que ele está ajudando muita gente, colaborando para que o clube cresça. E o Osmar depois entendeu isso.
Quando o Dorival fala, quando os jogadores falam, quando eu falo, no início o presidente achava que era para ele, contra ele. Mas depois ele entendeu. E eu ainda falei para o presidente: “O senhor tem que saber até aproveitar isso”.
Porque a gente não está falando do presidente atual. Os jogadores estão falando do que acontece com o Corinthians historicamente nesses últimos tempos. O presidente Osmar não tem nada a ver com isso.
Daqui para frente, sim, passa a ser problema dele. Agora ele está ali com os pratos, tentando equilibrar. Todas as críticas, quando falam de gestão, de política, de problema, não têm nada a ver com o presidente Osmar. E isso ele entendeu.
A gente está falando do que acontece — ou não é verdade? Em dois anos, dois presidentes. Em dois anos, três, quatro diretores financeiros… não sei quantos jurídicos. Isso não é uma bagunça?
LDE: E acaba influenciando, de uma forma ou de outra, isso no elenco. Jogador não gosta disso. Como você conseguiu segurar esses caras?
Fabinho Soldado: Pois é… esse foi o maior trabalho: apagar incêndio. E vai continuar sendo. Para o Marcelo (Paz), o maior desafio desse gestor que vai estar no Corinthians hoje é resolver esses problemas que já acontecem diariamente. É manter esse grupo fechado.
E, para que você faça isso, você tem que ter um ambiente 100% profissional, um ambiente seguro.
LDE: Você teve alguma participação em segurar o Memphis? Eu sei que ele tem contrato até julho de 2026, bem amarrado. Muitas vezes o Corinthians quis mexer nesse contrato, mas não pôde. O Memphis chegou a faltar a treinos, supostamente por salário atrasado. Você teve conversas com ele para acalmá-lo? Ou com outros jogadores do elenco?
Fabinho Soldado: Isso foi diariamente.
LDE: Sério?
Fabinho Soldado: O Memphis teve o problema dele de falta, mas foi questão clínica, médica. Nunca foi uma questão de “não vou porque não estão me pagando”.
É claro que ninguém fica satisfeito quando tratos não são cumpridos. Mas, em nenhum momento, ele disse que queria ir embora. Pelo contrário. Ele sempre tentou se colocar à disposição para colaborar.
Só que, sim, tem dias que ele chegou bem “animado”, né? E a gente tem que jogar uma água fria, esfriar o ambiente, para conseguir um pouco de tranquilidade.
Ninguém consegue ganhar título paulista e Copa do Brasil se não tiver esse trabalho muito bem feito. Essa é a verdade.
Imagina se eu não tivesse relação com os jogadores? Aí seria o inverso: “Ele não tinha relação com os jogadores. Ele está todo dia ali, os jogadores não confiavam nele”.
Ainda bem que vocês checaram as informações.
LDE: É porque houve casos, no passado, em que os jogadores realmente não engoliam a gerência do futebol e formaram algo como “sublideranças”. E, no seu caso, não. Foi o contrário.
Fabinho Soldado: Aconteceu muito no Corinthians, né?