
Uma investigação do SP2 revelou que três médicas ginecologistas do Hospital Heliópolis, na Zona Sul de São Paulo, não estavam cumprindo a carga horária enquanto pacientes enfrentam meses de dificuldade para conseguir consulta. As profissionais foram vistas fazendo atividades pessoais — como compras e aula de pilates — em momentos em que deveriam estar atendendo no ambulatório.
As médicas envolvidas são Márcia Kamilos, Silmara Fialho e Mara Gomes, todas listadas na escala oficial de ginecologia do hospital. Apesar disso, mulheres que dependem do SUS relatam que não conseguem marcar atendimento há muito tempo.
Rita de Cássia, cozinheira, diz tentar consulta há mais de seis meses:
“A gente tenta, tenta, e nada. Dizem que não tem vaga, que não tem médico. É humilhante, porque a gente paga imposto a vida inteira.”
Márcia Kamilos: afastada do SUS, ativa na rede privada
Segundo a investigação, Márcia Kamilos não aparece no hospital há um ano, amparada por um atestado de 365 dias por “capacidade laborativa prejudicada”. Mesmo assim, a reportagem conseguiu marcar consulta com ela em uma clínica particular.
A médica também participou de congressos, palestras e cursos ao longo de 2025, em São Paulo, Goiânia e Brasília — atividades incompatíveis com sua condição de afastamento.
Silmara Fialho: atrasos, saídas antecipadas e faltas
A rotina de Silmara também chamou atenção. No dia 17 de novembro, ela bateu ponto, mas saiu duas horas antes do fim da jornada e não registrou saída. Em outro dia, chegou com uma hora e meia de atraso. Também foi flagrada fazendo compras na Zona Cerealista enquanto deveria estar trabalhando. Em duas datas acompanhadas, nem apareceu no hospital.
Mara Gomes: pilates no meio do expediente
Já Mara foi vista deixando o hospital para fazer pilates em plena quarta-feira, ficando três horas fora. No dia 24, ela deixou o plantão para fazer aula em São Caetano — no mesmo horário em que deveria estar atendendo. Só depois voltou ao ambulatório.
Salários passam de R$ 210 mil no ano
De janeiro a outubro de 2025, juntas, as três profissionais receberam mais de R$ 210 mil do governo estadual, segundo o Portal da Transparência.
O que dizem as envolvidas e as autoridades
Márcia Kamilos afirmou que o hospital tem ciência de seu afastamento e da documentação. Já Silmara e Mara não responderam às ligações e mensagens enviadas pela reportagem.
A Secretaria da Saúde determinou que a organização social Albert Einstein, responsável pela gestão do hospital, apure os fatos com rigor. Disse ainda repudiar condutas antiéticas e prometeu punições administrativas e legais se as irregularidades forem confirmadas.
O Hospital Albert Einstein informou que está implementando melhorias no controle interno, incluindo ponto com biometria facial.
