A Netflix deu um passo gigantesco no tabuleiro da indústria do entretenimento ao anunciar que chegou a um entendimento para assumir o controle da Warner Bros. Discovery (WBD). O acordo, considerado um dos maiores já vistos no setor, avalia a companhia em cerca de US$ 83 bilhões, combinando pagamento em espécie e distribuição de ações, o preço estimado por ação da WBD ficou em US$ 27,75.
Pelo arranjo proposto, cada acionista da WBD deverá receber US$ 23,25 em dinheiro, além de outros US$ 4,50 em papéis da Netflix por título detido. O pacote inclui ainda um “collar”, mecanismo que ajusta a quantidade de ações conforme a oscilação do valor de mercado da plataforma de streaming até o fechamento da transação.
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A conclusão do negócio depende de uma etapa prévia: a cisão da divisão Global Networks, que abriga canais como CNN, TNT e Discovery. Essa estrutura será desmembrada e transformada na nova empresa Discovery Global, com lançamento previsto para o terceiro trimestre de 2026. Apenas após essa separação a compra deverá avançar para a fase final.
O impacto para a Netflix
Com essa ofensiva, a Netflix ganha acesso a alguns dos catálogos mais valiosos de Hollywood — incluindo produções históricas, estúdios renomados e títulos premium como os do universo HBO/HBO Max. Trata-se de uma guinada estratégica para a empresa, que até hoje apostava majoritariamente em conteúdo próprio e acordos de licenciamento.
A operação também será analisada por órgãos reguladores, que devem avaliar riscos à concorrência e possíveis abusos de concentração no mercado audiovisual.
Mudanças estruturais
Caso a compra seja confirmada, o estúdio Warner passará a funcionar dentro de uma lógica híbrida: mantendo estreias tradicionais nas salas de cinema enquanto integra parte de sua produção ao ecossistema de streaming da Netflix. O desenho representa uma ampliação dos modelos já adotados pela plataforma.
A movimentação, no entanto, não passou despercebida. Produtores, diretores e entidades do setor pediram que o Congresso dos EUA conduza uma investigação antitruste rigorosa, argumentando que a união poderia afetar distribuição, competição e até relações trabalhistas. Parlamentares já solicitaram análises detalhadas sobre os potenciais efeitos da fusão.
Pressão de rivais e disputa nos bastidores
Durante as negociações, a Paramount Skydance contestou a forma como o processo estava sendo conduzido, acusando a WBD de dar preferência à Netflix. Entre as reclamações, a concorrente sugeriu a criação de um comitê independente para avaliar as ofertas e denunciou supostas vantagens indevidas concedidas ao gigante do streaming. Políticos republicanos também manifestaram preocupação com o poder que a plataforma poderia assumir sobre operações televisivas e cinematográficas.
Próximos passos e reação do governo
Por ora, a Netflix e a WBD mantêm conversas exclusivas por um período limitado. Caso cheguem a um consenso, a proposta seguirá para a avaliação das agências de regulação, em um trâmite que pode se estender por boa parte de 2026.
A iniciativa chamou a atenção das autoridades norte-americanas. Em novembro, a representante republicana Darrell Issa enviou uma carta à Procuradora-Geral Pam Bondi, ao presidente da FTC, Andrew Ferguson, e à Procuradora-Geral Adjunta da Divisão Antitruste, Gail Slater, solicitando atenção especial ao negócio. A Paramount também teria alertado o departamento jurídico da Warner de que a operação poderia naufragar por conta dos entraves regulatórios, além de reforçar acusações de que a empresa favorece a Netflix durante o processo.
Como o processo chegou até aqui
A WBD abriu oficialmente a porta para negociações em 21 de outubro, quando confirmou publicamente que avaliava ofertas de compra. No comunicado, afirmou: “Enquanto a Warner Bros. Discovery continua a avançar na separação previamente anunciada da Warner Bros. e da Discovery Global, seu Conselho de Administração anunciou hoje que iniciou uma revisão de alternativas estratégicas para maximizar o valor para os acionistas, em vista do interesse não solicitado que a Empresa recebeu de diversas partes, tanto pela empresa como um todo quanto pela Warner Bros.Conselho da Warner Bros. Discovery avaliará uma ampla gama de opções estratégicas, que incluirão a continuação do avanço da separação planejada da Empresa até sua conclusão em meados de 2026, uma transação para toda a empresa ou transações separadas para seus negócios Warner Bros. e/ou Discovery Global”.
Em outra parte do texto, David Zaslav reforçou: “Continuamos a dar passos importantes para posicionar nossos negócios e obter sucesso no atual cenário de mídia em constante evolução, avançando em nossas iniciativas estratégicas, recolocando nossos estúdios na liderança do setor e expandindo a HBO Max globalmente. Demos o passo ousado de nos preparar para a separação da empresa em duas empresas de mídia distintas e líderes, a Warner Bros. e a Discovery Global, porque acreditávamos firmemente que esse era o melhor caminho a seguir”.
Gigantes como Apple, Paramount Skydance e NBCUniversal já haviam demonstrado interesse em assumir o controle da companhia. A Paramount Skydance, segundo informações de bastidores, teria apresentado diversas propostas ao longo dos últimos meses — sem conseguir avançar para a etapa final.