Opinião: Ao se envolver com Jaques e Danilo, Filipa perde apoio do público em “Dona de Mim”

Opinião: Ao se envolver com Jaques e Danilo, Filipa perde apoio do público em “Dona de Mim”

Em “Dona de Mim”, Filipa, personagem de Cláudia Abreu, se tornou um dos casos mais comentados da trama não por falta de coerência dramática, mas justamente pelo excesso de contradições que carrega. A trajetória da personagem escancara um ponto sensível das novelas: até onde o público aceita ambiguidades morais quando elas envolvem luto, culpa e desejo?

Filipa perde Abel (Tony Ramos) e, com ele, perde o chão. A morte do marido não encerra só um casamento, mas desmonta toda a estrutura emocional da personagem. O problema é que a novela acelera esse processo. O luto mal vivido logo dá espaço a novos envolvimentos, o que fez muita gente sentir que tudo aconteceu rápido demais, quase como se Abel tivesse sido esquecido.

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O primeiro baque veio com Jaques (Marcello Novaes). Não só porque ele esteve diretamente ligado à morte do irmão, mas por tudo o que carrega: inveja, mentiras e omissões. Quando a trama coloca Filipa se aproximando dele, a empatia do público começa a ruir. A pergunta foi imediata nas redes: se ela realmente amava Abel, como se envolver com alguém tão diretamente ligado à tragédia?

Com Danilo (Felipe Simas), a rejeição não some, só muda de foco. Mesmo sem intenção, ele também teve participação nos acontecimentos que levaram à morte de Abel. Para o público, soa como repetição de erro. Filipa segue se envolvendo com homens atravessados pela mesma dor, sem tempo para digerir o que aconteceu. Isso reforça a imagem de uma mulher agindo mais por carência do que por amadurecimento.

Mas o maior choque vem quando a novela cruza uma linha delicada: Danilo já tinha se envolvido com Nina (Flora Camolese), filha de Filipa. A partir daí, a rejeição é quase total. Para muitos telespectadores, esse é um limite que não dá para ignorar. O incômodo não é só moral, é emocional. Ao tratar esse passado como algo menor, o texto minimiza um conflito que, para o público, deveria pesar — e muito — nas decisões da personagem.

Nada disso diminui o trabalho de Cláudia Abreu. Pelo contrário. É justamente a força da atuação que faz Filipa provocar tanta reação. Ela não é vilã, mas também não é heroína. Erra, insiste nos erros e paga por eles.

No fim, talvez o problema não seja quem Filipa ama, mas a pressa da novela em fazer o público aceitar essas viradas como naturais. Faltou tempo. Tempo para o luto, tempo para o silêncio, tempo para sentir. E, em novela, isso faz toda a diferença.

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