SABRINA ONGARATTO, DO HOME OFFICE
A mãe de dois e microempreendedora Giuliana Binhott, 43 anos, de Volta Redonda, no Rio de Janeiro, passou pelo maior susto de sua vida no último domingo. Depois de brincar na cama elástica, a filha, Amanda, 11 anos, começou a reclamar de dor. Minutos depois, começou a perder a coordenação motora e a fala. “Em menos de 5 minutos, ela não sabia mais como se calça uma meia e foi perdendo a fala. Foi asussutador”, conta Giuliana, em entrevista à CRESCER. Veja, abaixo, o relato completo da mãe:
“Domingo pela manhã, minha filha acordou bem. Tomou café da manhã normalmente e, em um certo horário, foi para a cama elástica brincar com o irmão. Ficou em torno de 1 hora lá, entre pulos e quedas, sentaram para jogar jogos até que ela desistiu de brincar e entrou para ver desenho e desenhar. Cerca de 15 minutos depois, ela reclamou de dor de cabeça intensa e me disse que não conseguia prestar atenção no desenho que estava assistindo. Também percebi que ela não conseguia pronunciar palavras simples. Dei um medicamento para aliviar a dor e pedi para que ela tomasse banho. Porém, ela começou a chorar muito no banho, dizendo que os olhos doíam muito. Assim, que Amanda saiu do banho, ela já não lembrava mais a data de nascimento dela, foi perdendo todas as coordenações, não sabia como abotoava uma bermuda e muito menos como se calçava uma meia! Ela não processava o que nós falávamos com ela. Corremos para o hospital! Quando entramos no consultório, ela já não pronunciava mais as palavras corretamente, foi perdendo a fala e estava meio robótica nas atitudes. Foi muito rápido! Eu precisava manter a calma, pois meu marido já estava desesperado! E tenho um menino de 6 anos que estava apavorado também. Deus me ajudou muito nesse momento. Mas na hora, fui ao céu e voltei. Foi muito assustador. O médico a levou às pressas para fazer repouso e monitoramento. Confesso que foram os piores e mais longos minutos da minha vida. Os exames mostraram que a glicose estava normal, assim como o hemograma e PCR. Ela também fez uma tomografia computadorizada, que não deu alteração. Graças a Deus, foi melhorando e teve alta na terça-feira, mas juro que quando lembro, ainda sinto vontade de chorar. Agora, ela está 100%, mas a pediatra pediu para ela ficar de repouso até semana que vem. Confesso que o susto que eu levei… não desejo a nenhuma mãezinha.”
Já em casa, Giuliana decidiu fazer um alerta nas redes sociais. Em dois dias, foram mais de 1,5 mil compartilhamentos. “Estamos em quarentena, as crianças estão em casa e muitas mães deixam os pequenos sozinhos no brinquedo e não tem noção do perigo”, disse.
POR QUE ISSO ACONTECE?
No laudo do hospital, segundo a mãe, consta que Amanda teve uma “concussão cerebral”, que é um tipo de trauma crânio-encefálico, caracterizado por uma perda transitória da consciência. “A pediatra explicou que o que aconteceu foi um ‘efeito chicote’, quando se faz um movimento brusco demais ou bate com a cabeça. Acredito que foi porque ela estava pulando sentada e tentando cair em pé e teria causado o ‘tranco’ no pescoço. Graças a Deus a Amanda não teve uma lesão mais grave”, completou Giuliana, aliviada.
Segundo o neurologista Saul Cypel, presidente do Departamento de Neurologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), episódios como o que aconteceu com Amanda não é comum, mas ele chama a atenção dos pais, principalmente para o tempo no brinquedo. “Ficar muito tempo saltando e chacoalhando a cabeça pode, sim, ser prejudicial. Temos várias estruturas dentro da cabeça, como o labirinto, que é a região interna do ouvido ligada à audição, mas também à noção de equilíbrio e percepção de posição do corpo. Então, uma alteração na função do labirinto pode causar vertigem e tontura, a pessoa pode sentir que as coisas estão rodando ao seu redor. Essa sensação pode ser leve e passar rápido, mas uma alteração muito intensa pode levar à dificuldades de coordenação, mal estar e confusão na comunicação. Não é que ela perde a memória, mas a alteração labiríntica, pela intensidade da vertigem, pode deixar alguém confuso e atrapalhado”, exemplifica.
Segundo o neurologista, outra possibilidade que também pode gerar uma alteração na fala e coordenação, é quando a cabeça passa por movimentos muito bruscos, fazendo o cérebro se se movimentar, levando a uma concussão. “É quando o cérebro sofre pequenos movimentos, mesmo que milimétricos. Quanto mais nova a criança, maiores são os riscos. Por exemplo, em um bebê de até 2 anos, o cérebro ainda não está completamente fixado no crânio e as complicações podem ser mais sérias. Apesar de em crianças maiores não ser muito comum, existe uma série de questões, como alteração no metabolismo cerebral ou o exagero no tempo da brincadeira que podem levar à isso. O melhor é evitar a possibilidade de ocorrência. É bom lembrar que todo brinquedo tem um certo risco e os pais precisam estar atentos”, finalizou.