O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a senadora Simone Tebet (MDB), e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), pré-candidatos à Presidência da República, criticaram hoje o presidente Jair Bolsonaro (PL) por declarações feitas contra o sistema eletrônico de votação em reunião com embaixadores.
“É uma pena que o Brasil não tenha um presidente que chame 50 embaixadores para falar sobre algo que interesse ao país. Emprego, desenvolvimento ou combate à fome, por exemplo. Ao invés disso, conta mentiras contra nossa democracia”, disse o petista.
Em nota, Tebet diz esperar que os demais pré-candidatos manifestem no TSE sua confiança nas urnas eletrônicas para todos os brasileiros. “O Brasil passa vergonha diante do mundo. O presidente convocou embaixadores e utilizou de meios oficiais e públicos para desacreditar mais uma vez o sistema eleitoral brasileiro. Reforço minha confiança na Justiça Eleitoral e no sistema de votação por urnas eletrônicas”, disse a senadora.
Ciro afirmou afirmou que busca instrumentos legais para retirar Bolsonaro do cargo e criticou o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), responsável por autorizar processos de impeachment. “Sei que se trata de uma tarefa delicada. “Não há mais paciência política nem armadura institucional capazes de suportar tamanho abuso. Muito menos complacência de se interpretar organização clara e deliberada de golpe como arroubos retóricos ou desatinos de um presidente desqualificado.”
O que disse Bolsonaro no encontro
Aos embaixadores, Bolsonaro repetiu criticas que tem feito desde o ano passado ao sistema de votação. No início de sua fala, o presidente afirmou que basearia a apresentação em um inquérito da PF (Polícia Federal) sobre o suposto ataque hacker ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) durante as eleições de 2018. Trata-se do mesmo inquérito divulgado pelo presidente em entrevista à rádio Jovem Pan, em 4 agosto de 2021, quando ele leu trechos da investigação da PF. Outro inquérito foi aberto pelo STF para investigar o vazamento da apuração, com Bolsonaro e o deputado bolsonarista Filipe Barros (PL-PR) entre os alvos.
“Segundo o TSE, os hackers ficaram por oito meses dentro do computador do TSE, com código-fonte, senhas —muito à vontade dentro do TSE. E [a Polícia Federal] diz, ao longo do inquérito, que eles poderiam alterar nome de candidatos, tirar voto de um e mandar para o outro”, disse Bolsonaro.
O presidente ainda sugeriu que os ministros atuariam no TSE para barrar medidas de transparência. O objetivo, segundo Bolsonaro, seria eleger “o outro lado”.
“Eu ando o Brasil todo, sou bem recebido em qualquer lugar. Ando no meio do povo. O outro lado, não. Sequer come no restaurante do hotel, porque não tem aceitação. Pessoas que devem favores a eles não querem um sistema eleitoral transparente. Pregam o tempo todo que, após anunciar o resultado das eleições, os chefes de Estado dos senhores devem reconhecer o resultado das eleições”, disse.
Fachin reagiu
Após as declarações de Bolsonaro no Palácio da Alvorada, o presidente do TSE, Edson Fachin, afirmou que o chefe do Poder Executivo tenta, por meio de informações distorcidas, “diluir a República”. Leia a nota:
“As entidades representativas como a OAB e a própria sociedade civil precisam fazer sua parte na garantia de que a democracia seja preservada. É importante a sociedade civil e o cidadão entenderem que esse tipo de desinformação, como a de hoje, pode continuar, uma vez que ao negacionismo não interessa as provas incontestes e os fatos. Portanto, precisamos nos unir e não aceitar sem questionarmos a razão de tanto ataque”, disse o ministro.