Seis indígenas foram assassinados no Acre em 2021. Isso é o que aponta o Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil divulgado nessa quarta-feira (17) pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Entre as vítimas assassinadas nas terras indígenas do estado estão duas crianças de 12 anos.
Conforme o relatório, 176 indígenas foram assassinados em todo o país em 2021. O estudo usa como base dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) de cada estado. Amazonas é o estado com mais casos registrados, com 38 assassinatos, seguido de Mato Grosso do Sul, com 35 casos, e Roraima, com 32 homicídios.
Um dos primeiros homicídios registrados no estado acreano ano passado foi o de Levi Kulina e do filho dele Dido Kulina, de 12 anos. O principal suspeito dos crimes, Joaquim Kulina, foi preso e era filho e irmão das vítimas.
O bárbaro crime ocorreu na Aldeia Múltipla Etnia, que fica às margens do Rio Envira, na zona rural de Feijó, no interior do Acre. A Polícia Civil informou na época que Joaquim matou o pai e o irmão a facadas.
Outro assassinato com requintes de crueldade que consta no relatório foi o da Aldeia Alto Rio Purus, em Manoel Urbano, interior do estado. Segundo o Cimi, o menino Sinô Kulina, de 12 anos, foi assassinado em julho de 2021 quando pescava com um primo de 10 anos. Um homem que estava próximo da aldeia gritou com as crianças alegando que o lago onde eles pescava era dele e os expulsou.
O suspeito estaria bêbado e atirou na criança com uma espingarda. Ao ser baleado, o menino caiu nas águas e foi levado pela correnteza. O primo de Sinô conseguiu fugir de canoa. O homem teria ainda ido atrás do corpo da criança, arrastado até a praia e cortado o cadáver em dois pedaços e jogado novamente no rio.
O caso foi denunciado às autoridades por uma liderança indígena. O relatório não diz se o suspeito foi preso.
Ao todo, no Acre, foram cinco casos que resultaram em seis pessoas mortas. Os outros registros incluem ainda uma mulher assassinada pelo marido, que acabou morto por um parente da companheira na Terra Indígena Kaxinawá Ashaninka do Rio Breu, em Marechal Thaumaturgo; e também um indígena da etnia Kulina na Aldeia Coqueiral, em Feijó, morto por um não índio.
3º estado com mais nº de invasões
O relatório traz ainda número de invasões possessórias, exploração ilegal de recursos naturais e danos diversos ao patrimônio nas terras indígenas. De acordo com o relatório, em 2021, o número de invasões das Terras Indígenas (TIs) chegou a 33 no Acre, deixando, assim, o estado em terceiro lugar entre as federações com mais invasões.
Em todo país, o Cimi registrou 305 invasões, que ocorreram em, pelo menos 226 terras indígenas, em 22 estados do país. O estado com mais número de invasões foi o Amazonas, com 43, logo em seguida vem o Pará, com 42.
“Entre as 226 terras indígenas afetadas por invasão, pelo menos 58 registram casos de extração ilegal de madeira, areia, castanha e outros recursos naturais; 57 tiveram relatos de presença ilegal de pescadores e caçadores, que muitas vezes atuam de forma predatória; 44 TIs registraram casos de garimpo ou danos causados pela mineração; e pelo menos 33 TIs foram afetadas por grilagem ou loteamento de terras”, diz o relatório.
Relatório
O documento é resultado de uma apuração feita com as entidades e associações dos povos sobre a situação dos indígenas no Brasil, e mostra que, no ano passado, foram registrados 355 casos de violência contra os indígenas, entre assassinatos, abuso de poder, racismo e outros. Em 2020, foram 304 ocorrências.
Ao todo, são 281 páginas, divididas em cinco capítulos. O documento, chamado de relatório “Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil”, foi lançado no formato online e reuniu, além de lideranças indígenas, representantes da CNBB.
Veja abaixo os casos de violência contra indígenas no Brasil, em 2021, denunciados pelo Cimi:
Assassinatos: 176
Ameaças: 39
Abuso de poder: 33
Ameaça de morte: 19
Lesões corporais dolosas: 21
Racismo e discriminação étnico cultural: 21
Homicídio culposo: 20
Violência sexual: 14
Tentativa de assassinato: 12