16 abril 2024

Apontados como financiadores de atos golpistas no Acre são dois dos maiores agropecuaristas do estado

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O Ministério Público do Acre (MP-AC), identificou dois financiadores dos atos antidemocráticos que ocorrem em Rio Branco, que seriam os agropecuaristas Jorge José de Moura, mais conhecido como Rei da Soja, e Henrique Luís Cardoso Neto, dois dos maiores agropecuarista do estado, segundo a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Acre (FAEAC).

Ao g1, o presidente da Federação da Agricultura do Acre, Assuero Veronez confirmou que os dois são grandes produtores tanto com relação à pecuária, quanto com a agricultura. Jorge, inclusive é conhecido como o “Rei da Soja” no estado.

“São dois grandes produtores não só de gado, mas também de grãos, como soja. São produtores importantes [para o estado]. O Jorge é o maior produtor de soja aqui do Acre. Não fazem parte da diretoria [da Federação], mas são produtores e a Federação representa eles, assim como todos os outros produtores”, disse Veronez.

Em 6 de novembro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou que a Polícia Militar do Acre fizesse a “imediata desobstrução de todas as vias públicas que, ilicitamente, estivessem com seu trânsito interrompido” por atos antidemocráticos no estado.

A decisão cita especificamente a ação de caráter golpista promovida por grupos bolsonaristas na rua em frente ao Comando de Fronteira Acre / 4º Batalhão de Infantaria de Selva, em Rio Branco. Eles acampam no local desde o último dia 2 de novembro se revezando em grupos – a ação se mantém na manhã desta quinta (17).

A Justiça do Acre já havia determinado a desobstrução da área no último dia 4, mas a PM-AC foi ao local e não retirou o grupo.

‘Rei da Soja’

 

Jorge de Moura, conhecido como Rei da Soja em todo o estado, aparece, inclusive em um vídeo gravado no dia 1º de novembro em um dos pontos da BR-364 . Ele faz o chamamento para que o grupo vá para a frente do Exército no dia 2 de novembro, data em que os bolsonarista passaram a acampar no 4º Bis.

“A gente vem preocupado de perder nosso país e peço a todos que venham para rua. A hora é agora, quando verem nossos filhos e talvez nós mesmos como está acontecendo na Argentina e na Venezuela e tanto outros país. O Lula já falou o que vai fazer, a hora é agora de a gente se unir, pedir clemência mesmo, se possível até de joelho nas portas dos quart[és. É só o Exército que pode nos salvar”, disse.

Em uma pesquisa no site da Justiça, é possível ver que ele responde a alguns processo cíveis com relação a posse de terras e também foi preso em flagrante no dia 10 de novembro do ano passado em Xapuri por porte ilegal de arma de fogo.

g1 entrou em contato com Moura, mas não obteve resposta até última atualização desta reportagem.

Ao ser abordado pelos policiais, ele disse que era dono da arma, mas confessou que não tinha o registro. Na época foi arbitrada uma fiança de R$ 1,1 mil e ele foi solto ao pagar o valor. No dia 9 de setembro, o promotor Thiago Salomão ofereceu um acordo de não persecução penal. O processo segue em andamento.

Grupo bolsonarista segue acampado em frente ao Exército em Rio Branco  — Foto: Andryo Amaral/Rede Amazônica Acre

Grupo bolsonarista segue acampado em frente ao Exército em Rio Branco — Foto: Andryo Amaral/Rede Amazônica Acre

Henrique Luís Cardoso Neto

 

O segundo apontado como financiador é Henrique Luís Cardoso Neto, que mora em Senador Guiomard, no interior do Acre. Ele já foi candidato a vereador na cidade de Senador Guiomard e tem aparecido tecendo duras críticas à atuação do ministro Alexandre de Moraes. Ele também responde por alguns processos na área Cível. Em 2019, chegou a se envolver em uma polêmica de uma suposta tentativa de “comprar” um desembargador do Tribunal de Justiça do Acre (TJ-AC) para evitar a prisão do prefeito da cidade na época, que foi preso na Operação Sarcófago da Polícia Federal.

No dia 7 de novembro, em um site local, após ser citado como financiador dos atos, ele fez declarações a um site local e também criticou a atuação do ministro do STF. No mesmo dia, o procurador do MP-AC, Danilo Lovisaro, enviou a informação ao Supremo, destacando que as falas do pecuarista atacavam a honra do ministro.

“Um dos fazendeiros penalizados se manifestou de forma ofensiva à honra de Vossa Excelência e reafirmou que as eleições presidenciais foram fraudadas. Trata-se do fazendeiro Henrique Luiz Cardoso Neto. É evidente que as afirmações realizadas pelo fazendeiro atentam diretamente contra a honra de Vossa Excelência e que há, ainda, indícios de crime contra o Estado Democrático de Direito. Ante o exposto, é o presente para lhe dar ciência do ocorrido, solicitando o encaminhamento à Polícia Federal, já que no caso dos crimes contra honra a ação penal dependerá de representação do ofendido”, destaca o documento.

g1 entrou em contato com a defesa do pecuarista, mas também não obteve resposta até última atualização desta reportagem.

Ato em frente ao Exército

 

O grupo passou a ocupar a rua Colômbia, em frente ao 4º BIS, em Rio Branco no dia 2 de novembro. Durante o dia eles se revezam e à noite, geralmente, o movimento aumenta. Com uso de microfones, eles pedem intervenção das forças armadas, o que é crime, de acordo com a Constituição, porque atenta o Estado democrático de direito.

É comum a presença de crianças. Tendas foram montadas e o grupo também ocupa um terreno baldio que há no local. Há distribuição de refeições, e o espaço também se tornou ponto de venda de blusas do Brasil. A Polícia Militar chegou a ir no loca, mas não retirou os golpistas porque alegou não ocorre obstrução de ruas.

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