O uso de medicamentos, apesar de essencial para prevenir e tratar doenças, pode ter efeitos colaterais que comprometem diretamente a habilidade de dirigir, alerta a Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet).
A entidade publicou uma diretriz de conduta médica que avalia o impacto do uso de diversos medicamentos, especialmente aqueles que contêm substâncias psicoativas, na capacidade dos condutores.
O documento destaca a associação entre o uso de medicamentos, o desempenho na condução veicular e a ocorrência de acidentes, concentrando-se principalmente em ansiolíticos, sedativos, hipnóticos, antidepressivos, analgésicos opióides e anti-histamínicos.
“Abramet alerta que outros medicamentos prescritos e/ou adquiridos sem prescrição também podem comprometer a capacidade de dirigir de forma segura, como anfetaminas, antipsicóticos e relaxantes musculares.”
Em comunicado, a Abramet ressalta que a diretriz, voltada para médicos do tráfego e outros profissionais de saúde, visa orientar políticas públicas, destacando os cuidados que os pacientes devem ter ao assumir a direção.
A entidade enfatiza que os efeitos do uso de medicamentos na condução devem ser considerados também pelas autoridades do Executivo e do Legislativo.
Recomendação
Em 2009, a associação recomendou à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a inclusão de um símbolo de alerta nas embalagens dos chamados “Medicamentos Potencialmente Prejudiciais ao Condutor de Veículos Automotores”.
“A preocupação da Abramet decorre da observação do cenário nacional: dados divulgados pela Fundação Instituto de Administração em conjunto com o Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo & Mercado de Consumo indicam que a compra de remédios já representa 6,5% dos gastos das famílias brasileiras.”
“O Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos divulgou que a venda de medicamentos psiquiátricos aumentou significativamente no Brasil após a pandemia de covid-19: o consumo de medicamentos para ansiedade cresceu 10% de 2019 a 2022; sedativos, usados para dormir, aumentaram 33%; e o uso de antidepressivos aumentou 34%.”
Em 2015, o consumo de medicamentos foi listado como um dos fatores de risco para acidentes de trânsito pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Em 2018, a Organização das Nações Unidas (ONU) incluiu essa compreensão em uma resolução sobre segurança viária. “No Brasil, até o momento, não há legislação que aborde os riscos da interação entre medicamentos e direção veicular”, destaca a Abramet.
Classificação de substâncias
A diretriz avalia uma série de medicamentos comumente usados pela população e aponta os riscos associados à condução segura. No documento, a Abramet apresenta a classificação de diversos princípios ativos em termos de segurança.
Confira abaixo as classes de medicamentos e seus respectivos efeitos prejudiciais à condução:
Antidepressivos: sonolência, hipotensão, tontura, diminuição do limiar convulsivo, prejuízo nas funções psicomotoras;
Anti-histamínicos: sedação, aumento do tempo de reação e desempenho psicomotor prejudicado;
Benzodiazepínicos: quase todos os aspectos cognitivos do desempenho do condutor são afetados;
Hipnóticos Z: sedação, lapsos de atenção, erros de rastreamento, diminuição do estado de alerta, instabilidade corporal;
Opiáceos: sedação, diminuição do tempo de reação, reflexos e coordenação, déficit de atenção, miose (pupilas contraídas) e diminuição da visão periférica.
Orientações
O documento também fornece um conjunto de orientações não apenas para médicos do tráfego, mas também para outros profissionais de saúde que prescrevem medicamentos e para os próprios motoristas que utilizam essas medicações.
Para o médico do tráfego, a Abramet delineia um processo detalhado no exame de aptidão, destacando os pontos críticos a serem observados pelo especialista.
“A entidade destaca que não é responsabilidade do médico do tráfego questionar o uso de medicamentos pelo candidato a motorista, mas sim avaliar os riscos e informá-los.”
Quanto ao médico que prescreve a medicação, a associação recomenda que ele informe aos pacientes sobre os potenciais impactos da medicação na condução veicular e oriente sobre precauções extras durante o uso do medicamento.
“Para muitas doenças, existem opções de tratamento; opte por prescrever medicamentos que tenham demonstrado não ter efeitos prejudiciais na capacidade de condução”, enfatiza a diretriz.
Por fim, a entidade adverte o motorista, esclarecendo quais tipos de medicamentos podem afetar sua capacidade de dirigir:
“Podem prejudicar o motorista: medicamentos para dor, depressão, sono, epilepsia, alergias, problemas oculares, perda de peso, resfriados, entre outros, causando tonturas, dificuldades de concentração, confusão mental, alucinações, convulsões, distúrbios visuais, bem como sonolência e sedação.”
“Sempre pergunte ao seu médico se o medicamento prescrito por ele pode afetar sua capacidade de dirigir”, conclui a Abramet.
Via Agência Brasil.