Em 31 de março, o Golpe Civil-Militar de 1964, que instaurou a Ditadura Militar no Brasil, completa 60 anos. Os reflexos desse golpe também foram sentidos no recém-criado Estado do Acre, que havia se tornando uma unidade federativa menos de dois anos antes, após deixar de ser um território federal. O primeiro governador do Acre eleito de forma direta em 1962, José Augusto de Araújo, foi deposto em maio de 1964 por um golpe liderado pela 4ª Companhia do Exército, comandada pelo capitão Edgard Pedreira de Cerqueira Filho.
Historiadores acreanos destacam que os movimentos políticos contra o governo de Araújo já estavam em curso desde sua eleição, quando ele derrotou José Guiomard dos Santos, uma figura proeminente da “Autonomia Acreana”. Pressões externas e internas, especialmente dentro de seu partido, o PTB, contribuíram para sua queda após vencer Oscar Passos na convenção.
O historiador Sérgio Roberto Gomes de Souza, da Universidade Federal do Acre (Ufac), em seu artigo “Escrevo-te esta cartinha: memórias do golpe civil – militar no Acre, nas décadas de 1960 e 1970”, analisa cartas escritas por amigos e familiares de José Augusto de Araújo após sua renúncia forçada. Essas cartas revelam diferentes percepções sobre o processo que levou à queda do regime democrático no país e seus efeitos no Acre.
Um trecho de uma carta mencionada no artigo descreve a renúncia de José Augusto como algo prefigurado e esperado, simbolizado pelo sol encoberto e pássaros mudos nos dias que antecederam o ato. Outro historiador, Francisco Bento da Silva, também da Ufac, em seus artigos sobre o golpe de 1964 no Acre, destaca a fragilidade democrática e as perseguições políticas que se seguiram à deposição de Araújo.
Silva observa que as forças de oposição a Araújo viram no golpe a chance de abreviar seu governo, algo que já havia sido tentado por meio de um processo de impeachment na Assembleia Legislativa do Estado do Acre (Aleac). A história política do Acre, segundo os historiadores, foi marcada pela exaltação dos vencedores, o que muitas vezes obscureceu as visões conservadoras e os interesses pessoais por trás dos acontecimentos.
Os artigos também destacam as prisões, perseguições e o medo que permearam o período da ditadura no Acre, evidenciando como a história política do estado foi moldada por esse contexto. Reconhecer os erros do passado e garantir que situações arbitrárias como essa não se repitam são passos cruciais para seguir em frente e construir uma sociedade baseada em valores democráticos, direitos humanos e tolerância.