Recentemente, políticos bolsonaristas investiram em postagens patrocinadas para impulsionar denúncias falsas sobre um suposto esquema de exploração infantil no Arquipélago do Marajó, no Pará. Essas denúncias ganharam destaque nas redes sociais após a participação da cantora Aymeê Rocha em um reality show gospel, onde ela denunciou abusos contra crianças na região, no dia 15 de fevereiro.
Após a viralização do tema, diversos famosos e influenciadores compartilharam o vídeo da apresentação juntamente com conteúdos falsos ou descontextualizados, contribuindo para a disseminação de desinformação sobre a região. Isso levou “Ilha de Marajó” a se tornar o assunto mais pesquisado no Google no Brasil em 21 de fevereiro.
Segundo apuração da Agência Pública, a partir do dia 24 de fevereiro, pelo menos seis políticos bolsonaristas investiram até R$ 100 para impulsionar postagens relacionadas às denúncias no Instagram e no Facebook. Entre esses políticos estão os deputados federais Luciano Galego (PL), do Maranhão, e Maurício Neves (PP), de São Paulo, o deputado estadual do Pará e ex-superintendente regional do Incra Coronel Neil (PL), a vereadora de Navegantes (SC) Lú Bittencourt (PL), e os vereadores de São Paulo Reinaldo Digilio (PRB) e Lucas Ferreira (sem partido).
Essas postagens, que incluíam conteúdos impulsionados, ajudaram a disseminar informações falsas sobre a região do Marajó. Além disso, o Akachi, instituto que se apresenta como voltado para crianças vítimas de violência, tem sido indicado por influenciadores e políticos para receber doações para o Marajó via Pix. No entanto, não fica claro nas divulgações que o Akachi pertence a uma corrente evangélica e tem como um dos donos um pastor e ex-candidato bolsonarista.
Henrique Krigner, sócio do Akachi e diretor da ONG, é uma das principais lideranças da igreja evangélica Zion Church e do Dunamis Movement. Ele foi candidato a vereador de São Paulo em 2020 pelo Partido Progressista (PP), recebeu mais de 16 mil votos, e é conhecido por seu alinhamento político com o bolsonarismo. Krigner recebeu doações significativas para sua campanha, inclusive de grandes empresários e do fundador da Zion e Dunamis, o pastor Teo Hayashi.
As denúncias de abusos no Marajó foram associadas a políticos bolsonaristas e à igreja Zion, com o envolvimento de membros proeminentes, como o pastor Lucas Hayashi. Este último já publicou um vídeo em suas redes sociais sobrevoando o Marajó supostamente a convite da então ministra Damares Alves, que promoveu uma expedição da igreja Zion até a região em 2019.
Damares Alves foi investigada pelo Ministério Público Federal (MPF) por disseminação de fake news contra a população do Marajó, e suas declarações foram associadas a uma ação movida pelo MPF em 2022. Essas denúncias sem provas geraram controvérsias e críticas, especialmente por sua tentativa de associar o presidente Jair Bolsonaro ao combate à pedofilia durante a campanha eleitoral.
Em meio a esse contexto, diversas campanhas de financiamento coletivo foram lançadas para arrecadar fundos para o Marajó, mobilizadas por influenciadores e organizações. No entanto, é essencial abordar essas questões com cuidado e responsabilidade, evitando a disseminação de informações falsas e garantindo que os recursos sejam direcionados efetivamente para o combate à violência e para o bem-estar da população local.
Via UOL.