24 novembro 2024

‘Se foi tudo, até a esperança de dias melhores’, diz idoso de 92 anos após perder casa durante deslizamento de terra no Acre

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Idosos perderam tudo em desmoronamento da casa onde viviam — Foto: Júnior Andrade/ Rede Amazônica

Quinze anos de história encerrados em poucos segundos. Esse é o drama do casal de aposentados Raimundo Batista, de 92 anos e Jesuína da Silva Dias, 87 anos. Moradores da Rua Poços de Caldas, no bairro Cidade Nova, em Rio Branco, os dois perderam a casa e tudo que tinham nela em um deslizamento de terra nesta quinta-feira (14) .

A região afetada pelo deslizamento fica às margens do Rio Acre e foi uma das mais atingidas na última enchente histórica do Rio Acre. Agora, com a descida acelerada do nível do rio, que saiu de 17,89 metros em 6 de março para 8,97 metros na sexta (15), a área registrou o deslizamento.

Em 15 anos, esta foi a quarta vez que eles tiveram de sair de casa para buscar abrigo com os filhos. Como nas alagações anteriores o transtorno tinha sido passageiro, eles acreditavam que estariam seguros para voltar com a baixa do rio.

Os dois, então, voltaram para casa na quarta (13), e menos de 24 horas depois, enquanto organizavam a mudança de volta, perceberam que a casa desmoronaria.

Raimundo Batista chora ao falar do ocorrido — Foto: Melícia Moura/ Rede Amazônica

Raimundo Batista chora ao falar do ocorrido — Foto: Melícia Moura/ Rede Amazônica

“Nós tínhamos tudo na cozinha e a gente andava de lá pra cá. Foi assim, um vento, assim, um vento, de repente. Nós corremos, com tudo. A gente foi parar lá na rua. Foi rápido”, conta Batista.

Enquanto via tudo que tinha se perder, o aposentado sentiu o desespero aumentar ao se dar conta que poderia ter perdido ainda os R$ 2,5 mil que estavam guardados na gaveta de um armário na cozinha.

“Naquele momento se foi tudo, até a esperança de dias melhores”, relata emocionado.

Para a sorte dos aposentados, após o incidente, um dos filhos deles conseguiu encontrar o dinheiro ao cavar o local do desmoronamento.

Jesuína narra que achava que a visão estava turva no momento do desmoronamento, ao sentir a estrutura balançar.

“Eu estava na cozinha e fui olhando para a cerca, vi balançando e pensei: ‘Que negócio é esse? É a minha vista?’. Aí eu vi o barranco começando a cair, chamei ele [esposo] e depois a gente viu que a casa ia cair. Aí eu chamei ele e gritei: ‘vamos embora a casa vai cair'”, explica.

A dona de casa afirma que os dois ficaram apenas com a roupa do corpo. Ainda assim, ela é grata por não ter acontecido nada pior. “Foi tudo, não tem mais nada, mas seja o que Deus quiser. Se Ele permitiu né?!”, disse Jesuína.

‘A gente não dorme’

 

Irmãos são vizinhos dos idosos e também estão apreensivos — Foto: Júnior Andrade/Rede Amazônica

Irmãos são vizinhos dos idosos e também estão apreensivos — Foto: Júnior Andrade/Rede Amazônica

Os irmãos Sebastião e Alcineide Belarmino são vizinhos dos idosos e moram no local há 20 anos. A casa deles está de pé, mas após o incidente, os dois se dizem preocupados e apreensivos pelos vizinhos e pela própria residência.

“Minha casa foi alagada, né? Estou com medo, com bastante medo, porque agora tá rachando. E agora, como é que vai ser pra dormir à noite? A gente não dorme, passa o tempo”, afirma Alcineide.

Sebastião é marceneiro, mora na casa ao lado da irmã e tem um negócio no local. Ele diz que precisará aguardar para voltar ao trabalho depois do ocorrido. “Eu tenho meu assistente e mais cinco funcionários que trabalham aqui comigo. A minha casa é essa do lado que tá em construção, eu estou com medo, porque eu trabalho uma vida toda tentando fazer uma coisa, e de repente… Aí vamos aguardar pra ver”, disse.

Barulho grande

 

Tarcisio Tadeu é lanterneiro e diz que o momento do desmoronamento foi muito rápido — Foto: Júnior Andrade/ Rede Amazônica

Tarcisio Tadeu é lanterneiro e diz que o momento do desmoronamento foi muito rápido — Foto: Júnior Andrade/ Rede Amazônica

Tarciso Tadeu Andrade, que trabalha com lanternagem, estava dentro da oficina que desmoronou. Ele narra que escutou um barulho grande nos fundos da oficina e ao olhar, viu árvores caindo. Quando se deu conta, metade do local havia desmoronado.

“A gente só escutou aquele reboliço no barro, quando pensou que não, a metade da oficina já tinha arriado [sic]. Levou tudo, tanto que o compressor tá jogado. Só deu tempo de sair correndo, a gente só conseguiu salvar algumas ferramentas, mas não muitas. Tem muita ferramenta que tá tudo enterrado. O prejuízo foi grande, fora os dois carros que estão dentro do rio e os esses dois que estão aí: o caminhão e a parati”, expõe.

Área comprometida

Ao menos duas casas e uma oficina desabaram na rua, devido à baixa do Rio Acre. Quatro veículos também foram arrastados pela água. Segundo a Defesa Civil Municipal, ninguém se feriu, mas há risco de que mais residências desabem e por isso estão sendo evacuadas. Desde o dia 7 de março, o nível do Rio Acre tem baixado rapidamente.

Segundo o coordenador da Defesa Civil de Rio Branco, tenente-coronel Cláudio Falcão, a área do desabamento já foi isolada.

“Toda essa área está comprometida e que nós estamos evacuando agora, tirando as pessoas e tomando as providências para que se mantenha a segurança, especialmente das pessoas. Posteriormente nós vamos adentrar nessas casas para tentar salvar os móveis, mas primeiramente as pessoas. Agora, felizmente, ninguém estava dentro da casa”, disse.

Casas desbarrancam após vazante do Rio Acre na capital; situação ocorreu nesta quinta-feira (14) — Foto: Ismael Melo/Rede Amazônica

Casas desbarrancam após vazante do Rio Acre na capital; situação ocorreu nesta quinta-feira (14) — Foto: Ismael Melo/Rede Amazônica

Ainda segundo o tenente-coronel Cláudio Falcão, o terreno não tem sustentação e a área já era monitorada por risco de desabamento. Com a cheia histórica, o risco aumentou.

“Aqui nós vamos, pelo menos, averiguar um raio de 100 metros laterais do momento aqui do desmoronamento, para que a gente possa ter a dimensão. Mas, pelo menos, aqui na nossa lateral esquerda e lateral direita, nós vamos, pelo menos, evacuar umas 10 casas cada lateral, que dá em torno de 100 metros, para poder manter a segurança das pessoas e fazer o monitoramento permanente aqui nesse instante, da mesma maneira que a gente já teve que tirar algumas”, complementou.

Equipes do Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e Assistência Social do município foram ao local para organizar a logística de retirada das famílias e demais procedimentos de segurança.

POR G1 AC

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