28 novembro 2024

Vítimas de seita de Djidja foram abusadas e mantidas em cárcere privado: local tinha ‘cheiro de podridão’, diz delegado

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A família de Djidja Cardoso, ex-sinhazinha do Boi Garantido, que morreu nesta terça-feira, em Manaus, é investigada devido à criação de uma seita que, segundo a polícia, manteve vítimas em cárcere privado. A mãe, Cleusimar, e o irmão, Ademar, foram presos nesta quinta-feira, por tráfico de drogas e associação ao tráfico. Ele também foi alvo de um mandado por estupro. O delegado Cícero Túlio, responsável pelo caso, afirmou que as vítimas ficaram “despidas por vários dias”, eram abusadas sexualmente e obrigadas a fazer uso de alucinógenos.

— Diversas pessoas já foram ouvidas no decurso da investigação. Duas pessoas relataram fatos criminosos que levam a crer na possibilidade prática de estupro de vulnerável. Inclusive, com a possibilidade de ter acontecido um aborto com uma dessas garotas — disse o delegado.

Os mandados de prisão também foram expedidos contra três funcionários da rede de salões Belle Femme, comandada pela família. As investigações apontaram que uma ex-parceira de Ademar foi uma das vítimas da seita, que fazia uso de ketamina, uma droga com efeitos alucinógenos, com o intuito de “transcender para outra dimensão”.

— Ao longo das investigações, tomamos conhecimento de que Ademar também foi responsável pelo aborto de uma ex-companheira sua, que era obrigada a usar a droga e sofria abuso sexual quando estava fora de si. A partir desse ponto, as diligências se intensificaram e identificamos uma clínica veterinária que fornecia medicamentos altamente perigosos para o grupo da seita — afirmou.

O local onde a família vivia e as vítimas haviam sido mantidas foi descrito pelo delegado como um lugar que cheirava à podridão. Segundo Cícero Túlio, ao longo das operações nas unidades da rede, foram encontrados centenas de seringas, algumas prontas para serem usadas, além de doses da droga.

— Outras duas pessoas relataram essa situação do estupro, principalmente por terem sido dopadas durante o ato sexual e não se lembrarem nada sobre aquilo. Algumas delas permaneceram despidas por vários dias, sem sequer tomar banho, em uma situação de cárcere privado. Inclusive, no momento que adentramos naquela residencia, o cheiro de podridão era muito forte.

‘Prisão os salvou da morte’
A audiência de custódia, realizada nesta sexta-feira, comprovou a legalidade da prisão preventiva de Cleusimar e Ademar. De acordo com seu advogado, Vilson Benayon, a mãe e o irmão da ex-sinhazinha não foram ouvidos, já que não estavam em condições de dar depoimento no momento da prisão, muito alterados pelo uso de drogas. Segundo ele, grande parte do faturamento dos salões Belle Femme era direcionado para alimentar o vício.

— Pedimos o toxicológico e a internação compulsória dos dois em uma clínica de reabilitação. Eles foram atendidos na enfermaria do complexo prisional em crise de abstinência. Ontem estavam de um jeito, hoje estão de outro. O que eles têm é uma patologia, a prisão os salvou da morte — disse o advogado, ao GLOBO.

Djidja Cardoso era investigada pela Polícia Civil do Amazonas por fazer parte dessa seita com a família. Após a prisão, a mãe e o irmão disseram à defesa que chegaram ao estágio atual de vício em menos de um ano de uso.

Segundo a defesa, Cleusimar e Ademar estavam em estado de insanidade mental, já que não teriam qualquer noção da realidade enquanto estavam sob efeito da droga. Ainda conforme o advogado, não havia venda dos medicamentos por parte da família, eles apenas adquiriam as drogas para uso próprio.

Seita familiar

 

Djidja Cardoso, Cleusimar e Ademar — Foto: Reprodução/Redes sociais
Djidja Cardoso, Cleusimar e Ademar — Foto: Reprodução/Redes sociais

Batizada de “Pai, Mãe, Vida”, a seita criada pela mãe de Djidja, Cleusimar, e o irmão, Ademar, tinha forte cunho religioso. De acordo com a polícia, os três acreditavam ser, respectivamente, Maria Madalena, Maria e Jesus Cristo.

— A morte tem peculiaridades, principalmente pela possibilidade de uso de fármacos psicotrópicos. Há a possibilidade de ter havido um abuso que levou ao óbito dela (…) Não trabalhamos ainda com a hipótese de homicídio. Para que eu possa dizer que teve uma morte violenta e um homicídio, preciso de elementos de autoria. É o que estamos levantando — explica o delegado Daniel Antony, da Delegacia de Homicídios.

As investigações tiveram início a cerca de 40 dias, e a droga era obtida de forma irregular em uma clínica veterinária. Vítimas relataram aos policiais terem sido dopadas e mantidas em cárcere privado. A morte da mulher foi o estopim para o início das operações contra a organização, segundo disse o delegado Cícero Túlio, durante uma coletiva de imprensa, nesta sexta-feira.

— Eles utilizavam (a droga) para entrar nessa espécie de transe, para, segundo eles mesmos relataram, transcenderem para outra dimensão — explica o delegado Cícero Túlio. — Diversas pessoas já foram ouvidas no decurso da investigação. Duas pessoas relataram fatos criminosos que levam a crer na possibilidade prática de estupro de vulnerável. Inclusive, com a possibilidade de ter acontecido um aborto com uma dessas garotas.

POR O GLOBO

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