O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) comunicou nesta quarta-feira (4) que a Hidrelétrica de Santo Antônio, em Rondônia, teve que suspender parte de suas unidades geradoras devido à seca extrema que afeta o rio Madeira. Atualmente, a usina está operando com apenas 14% de suas turbinas. Na terça-feira (3), o rio registrou o menor nível dos últimos quase 60 anos, atingindo 1,02 metro.
De acordo com a Eletrobras, controladora da Hidrelétrica Santo Antônio, a suspensão das unidades geradoras localizadas na margem esquerda e no leito do rio foi uma medida necessária para concentrar a geração de energia no Grupo Gerador 1, situado na margem direita. A empresa afirma que, apesar da redução, a geração de energia continua abastecendo todas as regiões do país. A seca extrema na região amazônica é influenciada por dois fatores principais: o aquecimento anômalo do Oceano Atlântico Norte em comparação ao Atlântico Sul e o fenômeno El Niño, que atrasa o início da estação chuvosa e enfraquece as precipitações iniciais.
Em 2014, uma cheia histórica no rio Madeira já havia interrompido o funcionamento das turbinas da hidrelétrica, mas uma paralisação total só ocorreu em 2023 devido à seca. Com uma capacidade instalada de 3.568 Megawatts, distribuída entre 50 turbinas, a Hidrelétrica Santo Antônio é uma das maiores do Brasil, sendo capaz de atender ao consumo de energia de 45 milhões de pessoas.
O ONS informou que, atualmente, sete unidades geradoras estão em operação, produzindo aproximadamente 490 Megawatts, enquanto 43 turbinas permanecem paralisadas. A Eletrobras ressalta que, embora não haja previsão de uma paralisação total da usina, essa medida não está descartada caso o nível do rio Madeira continue a diminuir significativamente.
Em julho, a Agência Nacional de Águas (ANA) declarou situação “crítica” de escassez de recursos hídricos no rio Madeira, reconhecendo a possibilidade de paralisação da Hidrelétrica Santo Antônio devido à falta de chuvas e à baixa vazão do rio.
A operação da usina é considerada de “fio d’água”, o que significa que ela depende diretamente do fluxo do rio para manter as turbinas em funcionamento, sem a capacidade de armazenar grandes volumes de água. As turbinas foram projetadas para operar com uma queda líquida entre 10 e 20 metros, e variações fora desse intervalo podem comprometer o funcionamento das máquinas.
O rio Madeira, com mais de 3 mil km² de extensão, é um dos maiores do mundo e abriga duas das maiores usinas hidrelétricas do Brasil: Jirau e Santo Antônio. Ambas fazem parte do Sistema Interligado Nacional (SIN) e fornecem energia para todo o país.
O nível do rio Madeira atingiu a marca de 1,02 metro na madrugada da terça-feira (3) em Porto Velho, conforme dados do Serviço Geológico do Brasil (SGB), o menor registro desde o início do monitoramento em 1967.
A seca afeta diretamente a vida da população local, especialmente dos ribeirinhos que vivem às margens do rio e não têm acesso a água encanada. Segundo a Defesa Civil Municipal, essas comunidades estão entre as mais impactadas pela falta de água, sobrevivendo com menos de 50 litros diários por família, muito abaixo dos 110 litros por pessoa recomendados pela Organização das Nações Unidas (ONU) para suprir as necessidades básicas.
Na comunidade Maravilha, um igarapé secou, resultando na morte de dezenas de peixes e dificultando ainda mais o acesso à água para os moradores.
Confira a nota da Eletrobras na íntegra:
“A Eletrobras informa que, nesta terça-feira (3), às 14h, em função das baixas vazões no rio Madeira, a Hidrelétrica Santo Antônio paralisou as unidades geradoras localizadas na margem esquerda e no leito do rio, que atingiram os limites operativos.
A manobra permitiu manter a geração de energia concentrada em sete unidades geradoras localizadas no Grupo Gerador 1, na margem direita do rio, que estão sincronizadas no setor de 500 kV da usina.
No momento, com vazões próximas a mínimas históricas (2.700 m³/s) e geração efetiva de aproximadamente 490 MWm, a usina segue em operação e não há previsão de parada total da geração.
Apesar dos desafios gerados pela crise hídrica na região Norte, a Eletrobras tem adotado medidas técnicas e operacionais para minimizar o risco de paralisação da geração na Hidrelétrica Santo Antônio este ano, e segue gerando energia para Rondônia, Acre e outras regiões do país.
Porém, por ser uma usina a fio d’água, que opera de acordo com o comportamento hidrológico do rio, caso haja uma diminuição muito maior nas vazões, pode ser necessária esta medida.”