O Rio Madeira registrou uma nova mínima histórica neste sábado (7/9/2024), atingindo apenas 91 centímetros de profundidade. Esse novo recorde ocorreu apenas dois dias após o rio ter ficado, pela primeira vez, abaixo de um metro desde o início do monitoramento, em 1967.
De acordo com o Serviço Geológico do Brasil, o Madeira vem apresentando níveis excepcionalmente baixos desde julho, algo sem precedentes, especialmente durante os meses de julho e agosto. A seca extrema impacta diretamente a vida de famílias ribeirinhas que antes dependiam do rio, mas agora precisam caminhar quilômetros para alcançá-lo.
Comunidades afetadas
Em Itapuã, a cerca de 200 km de Porto Velho, vídeos gravados pelos moradores mostram a nova realidade: ribeirinhos, que antes navegavam para transportar seus produtos, agora atravessam campos de areia a pé. Valdino Costa, morador de Itapuã e produtor de banana, relatou que nunca enfrentou uma seca tão severa em seus 35 anos de vida.
“O trabalho ficou muito difícil. O rio recuou tanto que agora temos que andar muito para levar as caixas de banana até os barcos”, disse Valdino. As comunidades, além de enfrentar dificuldades com o transporte de produtos, também sofrem com a falta de água potável. Ribeirinhos têm sobrevivido com menos de 50 litros de água por dia, bem abaixo dos 110 litros recomendados pela ONU.
Soluções emergenciais
Para enfrentar a falta de água, a Defesa Civil de Porto Velho distribui kits de hipoclorito de sódio para tratamento da água consumida pelas comunidades. Também estão sendo construídos poços artesianos em parceria com o Serviço Geológico Brasileiro (SGB) para facilitar o acesso à água potável.
A seca de 2024 é tão inédita que o SGB precisou instalar uma nova régua de medição no rio Madeira, que vai até 0 centímetros, para continuar monitorando os níveis de água.
Além da seca, Rondônia tem registrado um aumento significativo nas queimadas. Entre janeiro e 5 de setembro de 2024, o estado contabilizou 7.282 focos de incêndio, a maior quantidade dos últimos 14 anos. O recorde anterior foi em 2010, com 7.293 focos no mesmo período.
O baixo nível do rio Madeira também afeta a geração de energia no Brasil. As hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, que estão entre as maiores do país, operam com capacidade reduzida. A hidrelétrica de Santo Antônio, por exemplo, está funcionando com apenas 14% de suas turbinas. Há, inclusive, o risco de paralisação completa, devido ao formato “fio d’água” da usina, que depende do fluxo do rio para manter as turbinas ativas.
A hidrelétrica de Santo Antônio, com capacidade instalada de 3.568 Megawatts, tem potencial para abastecer 45 milhões de pessoas, mas a seca ameaça esse fornecimento.