Em 24 de janeiro de 1835, a cidade de Salvador, na Bahia, foi palco da maior revolta de escravizados no Brasil, conhecida como Revolta dos Malês ou Insurreição dos Malês. Este levante, que envolveu cerca de 600 africanos, foi a maior rebelião de escravizados urbanos das Américas, enfrentando civis e soldados coloniais por mais de três horas.
O movimento, originado por escravizados muçulmanos, conhecidos como malês, levou a um confronto violento que resultou em mais de 70 mortes, com cerca de 500 rebeldes punidos com execução, prisão ou deportação. A revolta é considerada a mais significativa entre as várias rebeliões que ocorreram na Bahia entre 1807 e 1844, conforme aponta o historiador Clóvis Moura.
A Revolta dos Malês é notável por seu planejamento cuidadoso e organização secreta. Os rebeldes se reuniram em pontos estratégicos da cidade e criaram um clube secreto para articular o levante. O objetivo era não só combater os senhores de escravos em Salvador, mas também libertar os escravizados nos engenhos rurais.
Embora tenha sido rapidamente esmagada, a revolta inspirou gerações posteriores e continua a ser lembrada de diversas formas, como em estudos acadêmicos, livros, filmes e manifestações culturais. O bloco afro Malê Debalê, criado em 1979, leva o nome dos malês e homenageia aqueles que lutaram contra a escravidão. A escritora Ana Maria Gonçalves, em seu livro Um Defeito de Cor, também resgata a história da revolta.
Em 2024, o longa-metragem Malês e a exposição Eco Malês, que reúne obras de arte contemporâneas influenciadas pela revolta, ajudaram a reviver a memória deste importante episódio da história brasileira.
A Revolta dos Malês, marcada por lutas de resistência e um espírito de união entre diferentes comunidades africanas, é um símbolo da luta contra a escravidão e da busca pela liberdade e dignidade dos povos negros no Brasil.