5 fevereiro 2025

Acre avança em transplantes, mas recusa de familiares ainda compromete vidas

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Nos últimos anos, o Acre tem avançado na realização de transplantes de órgãos, ampliando o acesso ao procedimento e salvando vidas por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). A Fundação Hospital Estadual do Acre (Fundhacre), responsável pelos procedimentos no estado, realizou dois transplantes renais apenas em janeiro de 2025. Em 2024, foram 62 transplantes: 4 renais, 16 hepáticos e 42 de córnea.

No entanto, apesar dos avanços, a recusa familiar ainda é um dos maiores motivos para que um órgão não seja doado. No Brasil, a Lei n° 9.434/2007, regulamentada pelo Decreto n° 9.175/2017, determina que mesmo que alguém queira ser doador depois de falecer, a decisão final sempre cabe à família. Isso significa que a vontade da pessoa nem sempre é respeitada.

De acordo com a Central Estadual de Transplantes do Acre, em 2024, de 88 potenciais doadores identificados, 44 famílias negaram a autorização para a captação dos órgãos, representando 50% dos casos. Em 2023, a taxa foi menor, mas ainda considerável, com cerca de 35% de negativas, ou seja, 19 recusas entre 53 potenciais doadores.

Em 2024, de 88 potenciais doadores identificados, 44 famílias negaram autorização para captação dos órgãos. Foto: Neto Lucena/Secom

Atualmente, na fila de espera do estado, seis pacientes aguardam um rim, 26 esperam por um fígado e 179 por uma córnea. Todos já passaram por avaliação médica e estão aptos ao procedimento, a ser realizado quando houver órgãos disponíveis e compatíveis. Esses dados são do Serviço de Transplantes da Fundhacre, responsável pelo cuidado dos pacientes com indicação de transplante e os já transplantados, no pós-operatório.

Precisamos falar sobre doação de órgãos

É um assunto delicado de se tratar, mas quando a família não autoriza a doação, os órgãos não são retirados, e a oportunidade de salvar vidas é perdida. Essa negativa por parte da família pode estar relacionada à falta de informação, ao desconhecimento sobre o desejo do ente querido, a valores e crenças religiosas. Para evitar essa situação, é imprescindível que as pessoas expressem aos familiares, em vida, seu desejo de doar órgãos.

Atualmente, cerca de 200 pessoas aguardam por um transplante no Acre. Foto: Neto Lucena/Secom

A presidente da Fundhacre, Soron Steiner, fala sobre a importância da doação de órgãos para o tratamento de pacientes com doenças crônicas. “A Fundhacre é o maior complexo hospitalar do Acre e aqui vemos a importância deste ato todos os dias, ao acompanhar pacientes que aguardam por uma segunda chance. Cada doação representa não apenas a oportunidade de salvar uma vida, mas também de proporcionar um novo começo. Por isso, é fundamental que todos reflitam sobre a importância de ser um doador, contribuindo para um futuro mais saudável e cheio de esperança para muitas pessoas. Através da solidariedade das famílias e com os investimentos contínuos do governo do Estado, poderemos proporcionar esse novo começo a quem precisa”, afirma.

Presidente da Fundhacre, Soron Steiner reforça a importância da doação de órgãos para salvar vidas. Foto: Gleison Luz/Fundhacre

A coordenadora da Central Estadual de Transplantes, Celiane Alves, explica que o primeiro passo para se tornar um doador de órgãos é comunicar essa decisão à família: “A doação só acontece com a autorização familiar, então não é preciso registrar a vontade em cartório ou documentos oficiais. Um único doador pode salvar ou melhorar a qualidade de vida de várias pessoas por meio do transplante de órgãos e tecidos”.

Celiane Alves explica que um único doador pode melhorar a qualidade de vida de várias pessoas. Foto: Gleison Luz/Fundhacre

A escolha de fazer a diferença

Entre as histórias que marcam a doação de órgãos, está a de Fernando Melo, advogado e ex-deputado federal que perdeu a esposa, Esmeralda Queiroz, no início de janeiro, vítima de um acidente vascular cerebral isquêmico. Ainda no hospital, ele e a família decidiram doar os órgãos dela, permitindo que duas pessoas recebessem um novo rim e tivessem nova chance de vida. Esmeralda era conhecida por ser uma pessoa alegre e solidária, o que inspirou os familiares ao gesto de generosidade com o próximo.

“Foi um momento difícil, mas sabíamos que era o desejo dela”, diz Fernando. Foto: Cedida

Presente em cada etapa do processo, Fernando relatou que, no hospital, viu o momento de uma partida e de uma chegada, ou seja, de um novo começo para outras pessoas. “Foi um momento muito difícil, mas a gente sabia que esse era o desejo dela. Antes mesmo de nos perguntarem, nós já dissemos que queríamos doar, porque sabíamos que isso ajudaria alguém. Isso nos conforta um pouco, porque, mesmo na morte, ela pôde continuar ajudando pessoas. É um ato que dá sentido à dor, porque significa que a pessoa segue viva de alguma forma”, analisa o viúvo.

Ele também destacou o legado de sua esposa: “Ela deixou muitos exemplos e isso ajuda um pouco a gente a reconhecer que ela teve uma missão cumprida perfeitamente e vai sempre deixar lembranças na vida de muitas pessoas, porque ela era realmente uma pessoa maravilhosa. É isso que ela deixou marcado na minha vida, como esposo dela, e também nas dos seus familiares e amigos”.

Mais de 500 vidas transformadas

Referência nacional em transplantes, a Fundhacre atende usuários de todo o Acre e de estados e países vizinhos. Desde o início do programa de transplantes, em 2006, o complexo hospitalar realizou 530 procedimentos, sendo 332 de córnea, 102 de rim, e 96 de fígado e atualmente está em preparo para dar início aos transplantes de tecido musculoesquelético, após habilitação concedida pelo Ministério da Saúde em janeiro.

Desde 2006, a Fundhacre é o único hospital transplantador do estado. Foto: Neto Lucena/Secom

A doação de órgãos é um ato de solidariedade, e falar sobre o assunto pode fazer a diferença para quem espera uma nova chance. O governo do Acre, por meio do programa de transplante estadual, tem se dedicado às políticas de doação e transplante de órgãos, investindo na estrutura hospitalar da Fundhacre e na capacitação dos profissionais da saúde e equipes especializadas, para que esses serviços sejam realizados com cada vez mais segurança e qualidade, tanto para os doadores e suas famílias quanto para os pacientes que aguardam por um transplante.

Por Secom

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