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Uma funcionária da creche em que Salomão Rodrigues Faustino frequentava, relatou em depoimento à Polícia Civil que a dona do local, Flaviane Lima, entrou em desespero e pediu que ela e outra funcionária mentissem quando percebeu que havia esquecido o menino dentro do carro por cerca de quatro horas, em Nerópolis, na Região Metropolitana de Goiânia.
Segundo o depoimento, antes de o Corpo de Bombeiros chegar ao local, a empresária pediu para que as duas falassem para os socorristas que a criança de 2 anos “estava dormindo no berçário” e quando foram olhar “Salomão estava roxo”. No entanto, as mulheres se recusaram a mentir.
O g1 entrou em contato com a defesa de Flaviane Lima para que pudessem se pronunciar sobre o que foi dito pela funcionária em depoimento, mas o advogado preferiu não comentar.
Sobre o caso em si, o advogado Giovanni Caldas Vieira escreveu, em nota, que a empresária “está profundamente abalada, vivendo o pior momento de sua vida”. A defesa informou ainda que a mulher fez cursos em primeiros-socorros e que tentou salvar a criança. “Não houve qualquer intenção, qualquer descuido consciente ou negligência deliberada”, afirmou (leia a nota completa ao fim do texto).
Salomão foi encontrado sem vida na tarde de terça-feira (18). De acordo com a polícia, no dia em que o garoto morreu, a dona da creche, que era responsável por buscar e levar o menino até o local, o deixou no banco de trás do veículo, preso à cadeirinha.
Durante a audiência de custódia, realizada na quarta-feira (19), a empresária informou que, após chegar ao berçário, trabalhou normalmente e que só percebeu que a criança ainda estava no veículo quando foi para casa por conta de uma dor de cabeça.
“Quando eu abri o carro, o Salomão dobrou o corpinho dele na cadeirinha. Quando vi, desamarrei rápido da cadeirinha e levei ele para dentro. A gente ligou para os bombeiros. Eu tentei fazer os primeiros socorros, mas a gente percebeu ali que ele já não estava mais”, disse Flaviane Lima.
No entanto, a funcionária contou para a polícia que sentiu falta do menino na sala e que perguntou para Flaviane, por volta das 16h45, porque ele não estava presente no berçário. Ainda de acordo com o depoimento, a empresária saiu com o objetivo de ir embora e retornou cinco minutos depois com Salomão no colo, o qual estava “mole e todo roxo”.
Em seguida, a empresária colocou a criança na pia e jogou água no resto do menino, tentando reanimá-lo. Conforme o depoimento, Flaviane disse: “O que vai ser da minha vida, a mãe da criança vai me matar, como que esqueci ele dentro do carro”.
A funcionária relatou que acompanhou a criança na viatura dos bombeiros até o socorro no hospital e que a dona da creche permaneceu no local, pois “ficou com medo de encontrar a família de Salomão”. A criança foi levada até o Hospital Sagrado Coração de Jesus, mas não resistiu.
Em entrevista à TV Anhanguera, o delegado responsável pelo caso, André Fernandes, mencionou que embora a empresária tenha omitido o que realmente aconteceu com a criança, isso não interfere na investigação.
“Primeiro foi apresentado uma versão e depois outra. Essa segunda versão foi a que realmente todos os funcionários foram unânimes em informar que na realidade houve o esquecimento”, ressaltou.
A dona da creche foi presa no mesmo dia. Segundo o delegado, a empresária tentou fugir, mas foi detida em Itaberaí, a 80 quilômetros de Nerópolis. Flaviane foi encaminhada ao Complexo de Prisão Provisória de Aparecida de Goiânia, onde permanece presa.
Família desolada
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Salomão Faustino, que morreu após ser esquecido dentro de carro por dona de creche, e a mãe Giselle Faustino, em Goiás — Foto: Reprodução/Redes sociais de Giselle Faustino
Durante o velório realizado na quarta-feira (19), os familiares da criança estavam visivelmente abalados. A tia ressaltou que, inicialmente, os parentes não haviam sido informados da gravidade do caso. Ela destacou ainda que a família precisa de respostas e clama por justiça.
“A gente recebeu a notícia que ele teria se machucado na creche e que era para os familiares irem para o hospital porque precisava acompanhar”, mencionou Andréa Milhomen, tia do menino, em entrevista à TV Anhanguera.
A mãe de Salomão, Giselle Faustino, precisou ser amparada pelo Corpo de Bombeiros, durante a despedida do pequeno. Em publicação nas redes sociais, ela disse que está se sentindo em um pesadelo e não sabe como irá viver sem o filho. “Você levou todo meu coração e minha alegria”, escreveu.
Ela lamentou ter vivido com o filho por tão pouco. O menino havia completado 2 anos no dia 5 de fevereiro, pouco menos de duas semanas antes de sua partida.
“Como eu chegarei em casa agora e não presenciarei sua alegria?! (…) Eu não consigo fechar o olho sem imaginar seu sofrimento. Perdoa a mamãe, meu amor. Eu queria fazer tanto por você”, declarou Giselle.
Nota da defesa
É fundamental lembrar que estamos diante de uma perda irreparável. Uma criança perdeu a vida, e isso é algo devastador para todos os envolvidos. Deixamos nossos sentimentos, em especial, aos familiares. A cidade de Nerópolis está em silêncio, é possível sentir nas ruas o peso e a dor do ocorrido.
Minha cliente, trabalha com crianças e jovens há anos, sempre foi uma pessoa responsável e cuidadosa e , está profundamente abalada, vivendo o pior momento de sua vida. A creche conta com registro do cadastro de pessoa jurídica e alvarás de funcionamento.
Minha cliente preza pela preparação, tendo cursos na área de pedagogia e primeiros socorros. Justamente para estar preparada para qualquer emergência. Não houve qualquer intenção, qualquer descuido consciente ou negligência deliberada. Assim que percebeu o que havia acontecido, em completo desespero, tentou reanimar a criança e buscou socorro imediato dos bombeiros. Infelizmente, o pior já havia ocorrido.
Não há a tentativa de se esquivar da responsabilidade. No momento da prisão em flagrante pela polícia minha cliente estava, na companhia de seu companheiro, a caminho do distrito policial para se apresentar. Confiamos na investigação em andamento pela Policia Civil e na atuação da Justiça.
A família da minha cliente informa que a creche não foi aberta hoje e provavelmente não voltará a abrir, em vista do abalo emocional. Infelizmente um acidente devastador para todos, fazendo vítimas em todas as famílias envolvidas.
POR g1 Goiás.