Cientistas de diversos países identificaram quase 700 variações genéticas relacionadas à depressão, incluindo quase 300 descobertas inéditas. O estudo, o maior e mais diversificado já realizado sobre a genética da depressão, foi publicado na revista Cell e envolveu dados de mais de 5 milhões de pessoas em 29 países. A pesquisa contou com a participação da Coorte Brasileira de Alto Risco para Transtornos Mentais (BHRC), um estudo com a colaboração do Centro de Pesquisa e Inovação em Saúde Mental (CISM), um projeto especial da FAPESP.
Entre as novas variações genéticas, um terço foi identificado graças à inclusão de indivíduos de ancestrais miscigenados, como ocorre com a população brasileira. Isso é um avanço significativo na equidade científica, já que estudos anteriores concentravam-se predominantemente em participantes de ascendência europeia. Segundo o psiquiatra Pedro Mario Pan, coordenador da pesquisa no Brasil, a inclusão de diversas populações é fundamental para garantir tratamentos eficazes para todos.
As variações genéticas encontradas estão associadas a neurônios em regiões do cérebro responsáveis pelo controle das emoções. Essas descobertas oferecem novas pistas sobre os mecanismos da depressão no cérebro e podem abrir caminho para tratamentos mais eficazes. A professora Sintia Belangero, também do CISM, sugere que essas novas informações podem direcionar terapias específicas, além de adaptar medicamentos existentes para o tratamento da doença, como aqueles usados para dor crônica e distúrbios do sono.
Contudo, os pesquisadores alertam que mais estudos clínicos são necessários para confirmar a eficácia desses medicamentos no tratamento da depressão. O estudo também marca um passo importante na redução das desigualdades nos tratamentos da doença, que historicamente focaram em populações de origem europeia.
A pesquisa contou com a participação de 25% de pessoas de ascendência não europeia, representando um avanço significativo para tornar os avanços científicos mais inclusivos. Para a pesquisadora Vanessa Ota, da Unifesp, os resultados ajudam a reduzir lacunas históricas no entendimento da depressão e podem beneficiar milhões de pessoas em populações antes sub-representadas.
O estudo também destaca a importância de mais pesquisas globais e colaborativas para desenvolver novos tratamentos e estratégias de prevenção para indivíduos com maior risco genético de depressão. O objetivo final é transformar essas descobertas em cuidados mais acessíveis e eficazes para quem sofre dessa condição.
O projeto BHRC, que acompanha crianças e adolescentes em São Paulo e Porto Alegre, investiga fatores psicológicos, biológicos e sociais relacionados aos transtornos mentais e ao desenvolvimento cognitivo. Com esse trabalho, o CISM busca gerar novos insights sobre a origem dos transtornos mentais, incluindo aspectos genéticos e cerebrais.