
A enchente do Rio Acre e de vários igarapés tem causado grandes impactos na zona rural de Rio Branco, afetando ao menos 2 mil pessoas em comunidades distantes. Sem acesso imediato à assistência, os moradores dessas áreas isoladas dependem da ajuda de grupos voluntários que têm levado água potável e alimentos.
A cota de alerta do Rio Acre na capital é de 13,50 metros, e o nível de transbordo é de 14 metros. Desde o dia 10 de março, o manancial da cidade ultrapassou essa marca e, embora tenha começado a baixar desde terça-feira (18), os danos permanecem significativos. O último boletim divulgado pela Defesa Civil, no dia 17 de março, aponta que:
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Mais de 8,6 mil famílias estão diretamente afetadas, o que equivale a 31.318 pessoas;
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Pelo menos 171 famílias estão abrigadas, somando cerca de 551 pessoas;
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Cerca de 598 famílias ficaram desalojadas, ou seja, estão morando temporariamente na casa de parentes ou amigos;
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19 comunidades rurais foram atingidas, com três delas completamente isoladas, afetando 2.198 famílias rurais;
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43 bairros da capital também foram atingidos.
Na Comunidade Panorama, por exemplo, cerca de 60 famílias estão ilhadas. Como a área é distante do Centro de Rio Branco, o socorro demora mais a chegar. “O único meio de transporte agora são os barcos. A comunidade se organiza, alguns ficam ajudando a fazer a travessia e outros prestam assistência na localidade. Durante o dia, fazemos esse trabalho voluntário”, explicou o agricultor Francisco de Assis.
Na quinta-feira (20), uma equipe da Rede Amazônica Acre acompanhou a entrega de kits de alimentos e água potável na comunidade. O nível do Igarapé Redenção subiu tanto que isolou os moradores. Luisa Vilas Boas, voluntária do Grupo Social Pela Vida, se emocionou ao saber que o grupo era o primeiro a chegar com ajuda. Ela afirmou que não sabia que a região costumava alagar nesta época do ano e destacou a importância da cobertura jornalística para chamar atenção para a necessidade de assistência à população.
“É importante divulgar para que as pessoas saibam que aqui há quem precise de ajuda, que estão precisando de água, comida”, afirmou Vilas Boas.
Em outro ponto da estrada, o grupo visitou a família de Emyle Mariana, cujas duas filhas estão fora da escola no bairro São Francisco, pois não conseguem sair da região alagada. Para comprar alimentos ou outros itens, Emyle conta com a ajuda de vizinhos que pegam carona em canoas e vão até o Centro da cidade.
“Aqui, só conseguimos ir a pé, porque o ônibus não entra e a van, quando vem, não consegue passar devido ao ramal. A situação está muito difícil. As meninas não estão indo à escola. Elas não sabem nadar, e eu não vou arriscar”, lamentou Emyle.
Em outro ponto da estrada, o agricultor José Augusto, de 50 anos, estava consertando um barco para ajudar no transporte dos moradores. “O ramal é precário, não dá para ir por terra. Usamos o barco, e estou arrumando ele para poder continuar indo e vindo. As águas estão subindo, e precisamos estar preparados. Todo ano a alagação chega até aqui. No ano passado, chegou até a parede da minha casa. Estou me precavendo, porque uma hora vai chegar”, disse.
Por JAC 1