20 maio 2025

Acre lidera destruição de áreas arqueológicas no Brasil com quase 90% de perda de mata nativa

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Foto: Ricardo Azoury

O estado do Acre, tradicionalmente reconhecido por sua rica biodiversidade e importância para a preservação da Amazônia, enfrenta agora uma alarmante realidade: é o estado que mais destruiu áreas arqueológicas em todo o Brasil. Dados recentes apontam que aproximadamente 90% da vegetação nativa que recobria sítios arqueológicos já foi eliminada, colocando em risco não apenas o meio ambiente, mas também um acervo histórico de valor inestimável.

Essas áreas, muitas delas ainda pouco estudadas, contêm registros milenares da presença humana na região, como geoglifos, vestígios de aldeias antigas e artefatos que ajudam a compreender as culturas que habitaram o território acreano muito antes da chegada dos colonizadores europeus. No entanto, essas riquezas estão sendo rapidamente apagadas do mapa pela expansão descontrolada da fronteira agrícola.

Segundo especialistas, a transformação dessas áreas em pastagens para criação de gado e em grandes lavouras de soja tem ocorrido de forma acelerada e, muitas vezes, sem o devido respeito às legislações ambientais e patrimoniais. “O que estamos perdendo vai muito além da vegetação. Estamos perdendo história, identidade e oportunidades de compreender melhor o passado da Amazônia”, afirmou um arqueólogo ligado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), que preferiu não se identificar.

Entre os maiores impactos está a destruição dos geoglifos — desenhos geométricos gigantes esculpidos no solo que só podem ser vistos por completo do alto. Esses geoglifos são uma das maiores evidências da ocupação humana pré-colombiana na região e já foram reconhecidos internacionalmente por sua importância arqueológica. Muitos desses sítios vêm sendo literalmente arados por tratores e cobertos por monoculturas, sem qualquer tipo de estudo ou resgate prévio.

A legislação brasileira determina que qualquer intervenção em áreas que possam conter vestígios arqueológicos deve ser precedida de um estudo técnico e autorização do IPHAN. No entanto, o que se observa em grande parte do território acreano é o descumprimento dessa regra. A fiscalização, por sua vez, é limitada pela falta de estrutura dos órgãos responsáveis e pela pressão constante do agronegócio.

Organizações ambientais e universidades da região têm tentado chamar a atenção para o problema, promovendo estudos, expedições e campanhas de conscientização. Contudo, os recursos para esse tipo de pesquisa são escassos e muitas vezes insuficientes para acompanhar o ritmo da devastação. “Estamos travando uma batalha desigual. Os interesses econômicos estão se sobrepondo ao valor científico e cultural dessas áreas”, disse um professor da Universidade Federal do Acre (UFAC).

Outro ponto que agrava o cenário é a dificuldade em integrar o desenvolvimento econômico com a preservação do patrimônio histórico. Apesar do discurso de sustentabilidade adotado por muitas empresas do setor agrícola, na prática, a expansão acontece com pouca ou nenhuma preocupação com os impactos sociais e culturais.

Diante dessa situação, pesquisadores e ativistas cobram uma ação mais efetiva do poder público. Eles pedem a criação de políticas específicas para proteger as áreas arqueológicas do Acre e reforçam a necessidade de investir em educação patrimonial, para que a população local compreenda o valor dessas descobertas e participe da sua proteção.

A destruição de áreas arqueológicas não é apenas uma perda para o Acre, mas para toda a humanidade. Cada pedaço de terra que é tomado pelo agronegócio sem estudos adequados pode estar encobrindo segredos de civilizações antigas que nos ajudariam a entender a história da Amazônia e dos povos originários. O tempo está contra os defensores da memória ancestral do estado, e a urgência em proteger o que resta se torna cada vez maior.

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