Portugal e Espanha foram afetados por um apagão massivo nesta segunda-feira, com serviços básicos como telecomunicações, transportes, internet e bancos sendo interrompidos em grandes partes dos dois países. A empresa responsável pelo fornecimento de energia em território português informou que houve um “corte de energia maciço” na Península Ibérica — que também comprometeu o fornecimento em parte da França e em Andorra —, sem apontar a causa para a falha no sistema, que está sob investigação. A energia começou a ser normalizada à noite (tarde em Brasília), com 750 mil consumidores sendo atendidos em Portugal e um restabelecimento de luz elétrica no centro de Lisboa, enquanto cerca de 50% de cobertura foi restabelecida na Espanha, incluindo bairros de Madri. Contudo, regiões inteiras permanecem sem luz elétrica, e não há previsão para a retomada total.
Em ruas e avenidas, os semáforos pararam de funcionar, levando autoridades a recomendarem atenção redobrada por parte de motoristas, e a polícia a solicitar que evitem-se deslocamentos não essenciais. Passageiros de ao menos quatro trens de metrô precisaram ser resgatados em Lisboa, após ficarem presos no meio do trajeto, segundo o jornal Público. A EPAL, empresa que fornece água potável à capital portuguesa, disse que a distribuição pode ser afetada, fazendo apelos por um consumo consciente.
Aeroportos portugueses mantiveram parte de sua operação, com os embarques sendo feitos “à moda antiga” e check-ins de forma manual, mas durante a tarde, a Autoridade Nacional de Aviação Civil pediu que passageiros não se dirigissem aos aeroportos. Centenas de voo previstos para partida ou chegada no Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, foram cancelados — a instalação voltou a ter luz durante a noite.
O primeiro-ministro português, Luís Montenegro, convocou o Conselho de Ministros do país para uma reunião de emergência. A principal preocupação no momento é com o sistema hospitalar. Embora as unidades do país tenham geradores para situações de emergência, alguns hospitais reduziram suas atividades ao mínimo para poupar recursos até que a energia seja restabelecida.
— Serão algumas horas e é preciso termos todos paciência, porque objetivamente a situação é muito incômoda, mas não é também razão para alarme ou para comportamentos diferentes de um dia normal — disse Montenegro ao deixar a reunião no começo da tarde, acrescentando que o objetivo era restabelecer ainda nesta segunda o fornecimento de energia.
Em uma coletiva de imprensa na tarde desta segunda, o administrador da REN, João Faria Conceição, afirmou que não há uma previsão sobre o restabelecimento total do fornecimento energético no país, mas estimou que o restabelecimento de setores prioritários em Lisboa e Porto deveria ocorrer nas próximas horas, o que acabou se concretizando.
— A normalização total é difícil de prever. A prioridade agora são os consumos prioritários, como os hospitais — disse Conceição durante a declaração por volta das 18h30 (14h30 em Brasília).
Na Espanha, o blecaute começou por volta do meio-dia, com o fornecimento caindo pela metade, segundo dados da Rede Elétrica Espanhola, citados pelo El País. O Ministério do Interior espanhol decretou estado de emergência, enquanto cidades como Madri, Barcelona, Sevilha, Granada, Málaga e Cádiz eram afetadas — apenas nos territórios insulares de Baleares e Canárias não se sentiram nenhum efeito. Parte da energia começou a ser restabelecida pouco antes das 17h (12h em Brasília) no norte, sul e oeste do país. Por volta das 20h40, a energia voltou a chegar em partes de Madri.
Os problemas de infraestrutura provocados são comuns aos enfrentados por Portugal. A imprensa do país informou que muitos casos de pessoas presas em elevadores foram notificadas ao menos 280 em Madri, enquanto os bombeiros da Catalunha afirmaram que dos 526 chamados relacionados ao apagão, 90% foram relacionados a elevadores. Passageiros também foram retirados de vagões de metrô em Barcelona.
— O que estamos atendendo com mais frequência são chamados de presos em elevadores — disse a chefe do governo regional de Madri, Isabel Díaz Ayuso, em entrevista a Antena 3.
Serviços ferroviários, que são alimentados por eletricidade, foram suspensos em todo o país, deixando milhares de trabalhadores sem ter como voltar para casa após algumas empresas suspenderem seus expedientes. Cerca de dez estações ficarão abertas durante a noite, para que pessoas que precisavam voltar para destinos mais longe possam dormir e esperar o restabelecimento das linhas. Três centrais nucleares em funcionamento pararam automaticamente por causa de mecanismos de segurança.
O Aberto de Madri, torneio profissional de tênis, foi suspenso pela falta de energia, com uma partida entre Grigor Dimitrov e Jacob Fearnley sendo paralisada durante a disputa, porque uma câmera ficou parada em cima da quadra devido à falta de eletricidade. Na chave feminina, a americana Coco Gauff estava dando uma entrevista pós-partida, quando o microfone desligou de forma abrupta.
— Estou aliviada por ter terminado a partida — disse Gauff à imprensa. — Pelo apagão, o mais difícil por enquanto é que não pude tomar banho depois do jogo, não tem água quente. Usei toalhinhas.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, chefiou uma reunião com o Centro de Controle da Rede Elétrica, e convocou um gabinete de crise para acompanhar a situação. Ao fim de um encontro com o Conselho de Segurança Nacional, o líder do governo apelou para que todos mantenham a civilidade e se informassem por fontes oficiais durante a crise.
— Quanto tardará em recuperar a normalidade é algo que a rede elétrica não pode nos dizer com certeza. O que provocou a desaparição súbita da energia é algo que os especialistas não conseguiram determinar, mas o farão — disse Sánchez, que mantém contatos com Montenegro e com António Costa, presidente do Conselho Europeu, que acompanha a situação de perto.
Empresas de energia ligadas à produção e distribuição de energia disseram que o corte em Portugal estava relacionado a um problema em na rede na Espanha. O diretor dos Serviços de Operação da Red Eléctrica espanhola, Eduardo Prieto, afirmou que a origem do apagão foi a desconexão da França no âmbito do sistema de interconexão europeu. A perda de conexão, disse, gerou um desequilíbrio que levou ao colapso do fornecimento. Ele não disse o que causou a falha.
Fontes governamentais ouvidas pela AFP afirmaram que o apagão começou quando 60% da energia consumida na Espanha — 15 gigawatts — desapareceu “repentinamente” por “cinco segundos”, mas também não explicaram a causa.
Autoridades de Espanha e Portugal haviam mencionado preocupações de que o apagão pudesse ser repercussão de um ataque cibernético, mas órgãos competentes descartaram a possibilidade neste momento. O Centro Nacional de Cibersegurança de Portugal afirmou que nenhum indício de atividade maliciosa foi identificada até ao momento — mesma informação compartilhada pela União Europeia.
Apesar disso, tanto Montenegro quando Sánchez disseram em declarações durante a tarde que nenhuma hipótese havia sido descartada neste momento.
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Em Portugal e Espanha, efetivos extras de policiais e bombeiros foram convocados para que manter a ordem nas ruas durante a noite. Mercados e pontos comerciais foram recomendados a fechar as portas para evitar eventuais situações, uma vez que registrou-se uma corrida para estocar alimentos e água — mesma situação com combustíveis em postos de gasolina.
Escolas de ensino básico não fecharam as portas, mas os alunos foram instruídos a só deixarem as instituições com a presença dos pais. Algumas regiões espanholas instruíram que as escolas abrissem na terça-feira, mas sem atividades letivas regulares.
Cidadãos de Andorra e de partes da França que fazem fronteira com a Espanha também relataram ter sido afetados pelo apagão, porém de forma mais breve. A operadora de energia francesa RTE afirmou que em território francês, o corte no sudoeste do país durou minutos.
Com informações O Globo — Lisboa, Portugal