Mesmo com a leitura positiva de alguns analistas, o governo brasileiro criticou a decisão norte-americana. Em nota conjunta, o Itamaraty e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços afirmaram que a medida viola compromissos dos EUA com a Organização Mundial do Comércio (OMC). O Brasil não descarta acionar o órgão internacional contra a decisão.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também se manifestou com preocupação e anunciou que uma comitiva de empresários brasileiros viajará aos Estados Unidos em maio para tentar fortalecer o diálogo e buscar alternativas que reduzam os impactos da tarifa.
“O mercado americano é um dos mais importantes para a indústria brasileira. Qualquer barreira à entrada dos nossos produtos é motivo de atenção”, afirmou o presidente da CNI, Ricardo Alban.
Aproximação política pode ter ajudado
Para o ex-secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, a alíquota de 10% é reflexo da articulação do governo brasileiro, especialmente do vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin. Ele teria tido um papel importante nas conversas com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick. “Falaram muito em taxar o etanol, o que não aconteceu. O resultado foi menos ruim do que se imaginava”, afirmou Barral.
Impacto pode ser positivo para o Brasil
Segundo o advogado Carlos Lobo, do escritório Arnold & Porter, sediado em Nova York, a tarifa de 10% é “relativamente baixa” e pode abrir espaço para o Brasil conquistar novos mercados. “Com a reconfiguração das cadeias globais de produção, o Brasil pode atrair empresas e aumentar sua competitividade, especialmente frente a países mais afetados, como a China, que foi taxada em 34%”, afirmou.
Lobo acredita que setores como o de proteína animal, que já se beneficiaram em situações semelhantes no passado, podem novamente ganhar espaço no mercado internacional.
Por outro lado, o economista-chefe do Barclays no Brasil, Roberto Secemski, alerta que os impactos indiretos da medida podem ser mais prejudiciais. Ele cita como exemplo uma possível desaceleração da economia global, especialmente da China, que pode afetar negativamente o desempenho das exportações brasileiras.
Apesar das incertezas, analistas seguem atentos aos desdobramentos do tarifaço de Trump e às oportunidades que o novo cenário pode trazer para o Brasil.