
Um levantamento global revelou que, em 2024, os países localizados nos trópicos perderam 6,7 milhões de hectares de florestas primárias — área equivalente a todo o território do Panamá. O número é o mais alto já registrado pelo Laboratório de Análise e Descoberta de Terras Globais (Glad Lab), da Universidade de Maryland (EUA), e está disponível na plataforma Global Forest Watch, do World Resources Institute (WRI).
O ritmo da destruição equivale a 18 campos de futebol de floresta sendo devastados a cada minuto. Embora nem toda perda vegetal seja resultado de desmatamento — que envolve ação direta do ser humano —, os incêndios florestais, geralmente causados por pessoas, foram os principais responsáveis pela devastação em 2024. Segundo o estudo, o número de queimadas em florestas tropicais foi cinco vezes maior do que em 2023.
Entre os dez países que mais perderam floresta primária, o Brasil lidera, concentrando 42% do total registrado nos trópicos. Na sequência aparecem Bolívia, República Democrática do Congo, Indonésia, Peru, Laos, Colômbia, Camarões, Nicarágua e México. Juntos, esses dez países foram responsáveis por 87% da perda global.
A destruição florestal não ficou restrita às áreas tropicais. Segundo o estudo, houve um aumento de 5% na perda total de cobertura arbórea em relação a 2023, totalizando 30 milhões de hectares devastados. Pela primeira vez, foram registrados grandes incêndios também em regiões de floresta boreal, como Alasca, Canadá e Sibéria.
Para o pesquisador Peter Potapov, do Glad Lab, a perda em áreas remotas onde não há atividade industrial é particularmente preocupante. Ele ressaltou que, no Brasil, a expansão da agricultura industrial, mineração e exploração madeireira são os principais vetores de devastação.
Os incêndios florestais em 2024 também provocaram a emissão de 4,1 gigatoneladas de gases de efeito estufa — quatro vezes mais do que em 2023. “Isso precisa servir de alerta para governos e empresas. Se seguirmos nesse ritmo, não vamos conter as mudanças climáticas”, alertou a codiretora da GFW.
Situação no Brasil
O Brasil, que possui a maior área de florestas primárias tropicais do mundo, viu a perda por incêndios crescer 110% entre 2023 e 2024, sendo este o maior índice desde o recorde registrado em 2016. O Pantanal foi o bioma com maior perda proporcional de cobertura arbórea.
Além dos incêndios, o desmatamento para criação de gado e cultivo de soja também contribuiu para a destruição, com um aumento de 13% na perda de floresta não relacionada a queimadas. Ainda assim, os números permanecem abaixo dos picos registrados no início dos anos 2000 e durante o governo anterior.
O relatório reconhece os esforços da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para preservar os biomas brasileiros — como a revogação de normas ambientais nocivas, demarcação de terras indígenas e reforço na aplicação da legislação ambiental. No entanto, os pesquisadores alertam que a pressão do agronegócio ainda ameaça os avanços alcançados.