A morte da brasileira Juliana Marins, de 26 anos, após uma queda em uma trilha no Monte Rinjani, na Indonésia, tem gerado comoção nas redes sociais, críticas à condução das buscas e sinais de tensão diplomática entre Brasil e Indonésia. Juliana foi encontrada morta cerca de 600 metros abaixo da trilha, quatro dias após o desaparecimento. Nas redes sociais, brasileiros passaram a inundar o perfil do presidente indonésio, Joko Widodo, no Instagram, acusando o governo local de negligência e demora no resgate.
Além da dor da perda, a família da jovem agora enfrenta um desafio adicional: os altos custos com o translado do corpo ao Brasil. A legislação brasileira, por meio da Lei 9.199/2017, não prevê que o governo federal arque com despesas relacionadas ao sepultamento ou ao transporte de brasileiros falecidos no exterior, exceto em casos médicos específicos ou de atendimento emergencial de caráter humanitário.
“A assistência consular não inclui o pagamento de despesas com sepultamento e translado de corpos de brasileiros falecidos no exterior, nem despesas com hospitalização”, diz o trecho da lei.
Diante disso, parentes e amigos terão que mobilizar recursos próprios para trazer Juliana de volta ao país. A prioridade do Itamaraty, até o momento, tem sido prestar apoio à família e acompanhar de perto o processo de resgate. Três funcionários da embaixada brasileira foram deslocados para a região onde ocorreu o acidente, localizada a mais de 1.200 km da capital Jacarta.
O caso causou desconforto também no governo brasileiro. Informações de bastidores indicam que o presidente Lula teria feito cobranças diretas ao governo da Indonésia, em razão da repercussão negativa e da comoção nacional. A tragédia acontece a poucas semanas da visita oficial de Joko Widodo ao Brasil, quando ele participará da cúpula do Brics e de um encontro bilateral com Lula — o episódio pode impactar o clima diplomático entre os países.
Durante os quatro dias em que Juliana esteve desaparecida, circularam informações desencontradas. A família chegou a receber, no primeiro dia, um vídeo falso sugerindo que ela ainda estaria viva, o que agravou a dor dos parentes.
Itamaraty estuda revisar orientações a turistas de aventura
Diante do caso, o Ministério das Relações Exteriores estuda atualizar as recomendações feitas a brasileiros que realizam turismo de aventura no exterior. As orientações vigentes são de 2021 e bastante genéricas. Elas atribuem ao próprio viajante a responsabilidade pelas decisões, inclusive em percursos de risco, lembrando que a assistência consular do governo brasileiro, nesses casos, é limitada.
O caso de Juliana e outros episódios semelhantes levaram o Itamaraty a reavaliar os critérios sugeridos para contratação de empresas, os equipamentos mínimos a serem levados e as condições de segurança. Ainda assim, o órgão reforça que essas recomendações têm caráter apenas orientativo.
Mesmo em regiões onde o governo já publicou avisos de risco, como o Oriente Médio, diversos brasileiros seguem viajando — o que limita a atuação consular diante de emergências.
Enquanto a apuração sobre eventuais negligências por parte da empresa responsável pela trilha e das autoridades locais ainda está em curso, a tragédia de Juliana expõe os desafios enfrentados por brasileiros em viagens internacionais de risco e reacende o debate sobre a proteção a cidadãos no exterior.