O crescente número de títulos de eleitor cancelados em Sena Madureira não é apenas um dado técnico ou estatístico: é o retrato silencioso de um fenômeno preocupante que vem se intensificando em todo o Brasil — o desinteresse do eleitorado pela política.
De acordo com o relatório mais recente da Justiça Eleitoral, 5.111 títulos foram cancelados no município, que possui atualmente 29.714 eleitores aptos. Isso significa que cerca de 17% dos eleitores deixaram de votar ou estão impossibilitados de exercer esse direito — um número que precisa ser encarado como um grito de alerta.
O que está por trás desse abandono das urnas?
A resposta está nas ruas, nas redes sociais e nas conversas de esquina: falta de confiança, promessas não cumpridas, escândalos de corrupção e um distanciamento crescente entre representantes e representados. O eleitor cansou de ser lembrado apenas em ano eleitoral. Cansou de ouvir discursos ensaiados, de ser cortejado com sorrisos falsos e abandonado logo após o último voto ser computado.
Em Sena Madureira, essa realidade não é diferente. O número expressivo de títulos cancelados escancara a frustração da população com a política local. Muitos deixaram de comparecer à Justiça Eleitoral para regularizar a situação simplesmente porque não veem mais sentido no processo. Para esses cidadãos, votar deixou de ser um instrumento de mudança e passou a parecer um ato vazio.
Enquanto os políticos insistem em velhas práticas e disputas de poder, a base da democracia — o eleitor — se afasta. E esse afastamento não pode mais ser ignorado. É um sinal claro de que algo precisa mudar urgentemente. Os representantes públicos, sejam eles vereadores, prefeitos, deputados ou senadores, precisam reconectar-se com a população, não apenas em falas bonitas, mas em ações concretas.
Se a política não voltar a ser feita com seriedade, transparência e compromisso verdadeiro com o bem comum, o risco é que, ano após ano, a apatia cresça. E uma democracia sem participação popular é uma democracia doente.
O número de títulos cancelados em Sena Madureira deve ser visto, portanto, não como um problema apenas da Justiça Eleitoral, mas como um sinal de falência de representatividade. Está na hora dos políticos — especialmente os que buscam reeleição ou novos mandatos — entenderem que a verdadeira campanha começa com o resgate da confiança.
O voto é um direito. Mas, antes disso, ele precisa ser um ato de esperança. E essa esperança está se esgotando. Quem ainda não entendeu isso, já perdeu muito mais do que uma eleição. Perdeu o povo.
