O elefante asiático, Tamy, que esperava ser transferido da Argentina para o Santuário de Elefantes Brasil (SEB), em Mato Grosso, morreu antes de completar sua jornada rumo à liberdade, na última segunda-feira (23/6). O animal, de 55 anos, vivia desde 1984 no antigo zoológico de Mendoza, e há meses era preparado para a viagem, que exigia cuidados especiais devido seu histórico de confinamento e dores articulares.
Entre as vozes que lamentam morte do animal está a da ativista Carol Zerbato, madrinha do SEB desde a chegada das primeiras elefantas resgatadas, Maia e Guida, em 2016.
“Tamy não conseguiu esperar. O corpinho dele sucumbiu antes do processo terminar. A vida desses animais em cativeiro é triste demais. Não se trata só da falta de espaço, mas da perda de autonomia, do direito de ser dono do próprio tempo”, disse Carol, em entrevista ao Metrópoles.
Resgate era aguardado há anos
O caso de Tamy ganhou notoriedade por ser um dos resgates mais aguardados do santuário.
Com um passado marcado por décadas de performances em circo e abandono, o elefante enfrentava dificuldades físicas e emocionais para confiar em humanos novamente.
“Ele aprendeu que medo e submissão eram a forma de sobreviver. Ele precisava de tempo, precisava acreditar que poderia ser quem nasceu para ser: um elefante”, resume Carol.
A transferência de Tamy exigia uma estrutura complexa: adaptação à caixa de transporte, criação de vínculo com tratadores e avaliações veterinárias constantes. Ainda assim, o plano seguia com otimismo.
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A ativista relata que o animal já havia começado a reagir positivamente nos últimos meses. Na visão dela ele demonstrava interesse e estava curioso,porém “a dor venceu”.
Para Carol, a morte de Tamy expõe uma realidade negligenciada.
“Muitas pessoas acham que animais como ele não conseguem viver fora do cativeiro. Mas se você estivesse preso há 40 anos e tivesse um dia para ver o sol, brincar na lama, sentir a chuva, você preferiria continuar preso?”, provoca.
Tamy teria como destino uma nova área dedicada a elefantes asiáticos machos no SEB, onde outros resgatados já vivem em ambiente mais próximo do natural.
Ela explica que o santuário é como o ato final na vida desses animais, onde eles finalmente podem “decidir por si mesmos” e se reconhecerem como indivíduos.
Elefante Tamy
Santuário dos Elefantes
Elefante Tamy
Santuário dos Elefantes
Elefante Tamy
Santuário dos Elefantes
Material cedido ao Metrópoles
O santuário lamentou a morte do animal em nota: “Embora essa notícia seja chocante, também representa tristemente o que o cativeiro pode causar a um indivíduo — especialmente ao longo de décadas.”
Uma necropsia deve apontar as causas exatas da morte.
Tamy se junta agora à memória de outros elefantes que passaram pelo SEB, como Guida, que morreu em 2019, e Pocha, mãe de Guillermina, ambas também resgatadas da Argentina.